#picos #impacto #praia #água #ação ambiental 

Cresce o movimento das Reservas de Surf no Brasil e no Mundo

Aconteceu em Lisboa, a Conferência dos Oceanos da ONU, com a participação de várias entidades internacionais ligadas ao nosso ecossistema de surf.

06/Jul/2022 - Marcos Aurélio Gungel (Kito) - Brasil

No momento em que o Oceano nos brindou com ótimas ondas na praia de Itaúna, em Saquarema/RJ, ao receber a elite da World Surf League (WSL) no Oi Rio Pro, em Lisboa, Portugal, aconteceu a Conferência dos Oceanos da ONU, com a participação de várias entidades internacionais ligadas ao nosso ecossistema de surf, como a Save The Waves Coalition (STW), a Surfrider Foundation, a Surfers Against Sewage e a Conservation International (CI), entre outras.

Na Costa Rica, no dia 12 de junho, a belíssima Playa Hermosa celebrou oficialmente o título de 11ª. Reserva Mundial de Surf (RMS), designado pela Save The Waves Coalition (STW), quando também já foi anunciado que a 12ª. RMS será North Devon, no Reino Unido. Além do “staff” das ONGs já citadas, a World Surf League (WSL) também se fez presente na celebração através do Ceo da América Latina, o brasileiro Ivan Martinho.

Ainda neste mês de junho, no dia 21, o Brasil presenciou o crescimento deste movimento das Reservas de Surf, que, através das ONGs Conservation International (CI) Brasil e o Instituto Aprender Ecologia, lançaram a parceria “Ecossistemas de Surf Brasil”, com o propósito de buscar financiamento para a execução do Programa Brasileiro (PBRS).

O lançamento aconteceu no Flutuante Rio restaurante, tendo ao fundo o Cristo Redentor e um pôr do Sol que ajudou a abrilhantar o evento, quando os representantes das duas ONGs e da 9ª. Reserva Mundial de Surf Guarda do Embaú falaram a respeito da iniciativa e de suas experiências.

O tema é relativamente novo. Nasceu na Austrália no início de 2000 com as Reservas Nacionais e se espalhou pelo mundo culminando com a criação, em 2009, do Programa das Reservas Mundiais de Surf (RMS), pela Ong Save The Waves Coalition (STW), com sede na Califórnia/USA, cujo objetivo é criar uma rede mundial de ondas de qualidade e cuja gestão fica a cargo de um Comitê Gestor Local. Hoje a STW e a CI são parceiras no projeto Surf Conservation.

Desde então, doze localidades no planeta já foram oficialmente designadas e entre elas, a Guarda do Embaú, cuja onda icônica quebra no canto esquerdo da praia, onde desemboca o Rio da Madre que divide os municípios catarinenses de Palhoça e Paulo Lopes. As outras RMS são: Malibu (Califórnia/USA), Ericeira (Portugal), Manly Beach (Austrália), Santa Cruz (Califórnia/USA), Huanchaco (Peru), Bahia de Todos os Santos (México), Punta de Lobos (Chile), Gold Coast (Austrália), Noosa (Austrália), Playa Hermosa (Costa Rica) e North Devon (Reino Unido).

A aprovação da Guarda em 2016 como a 9ª. Reserva Mundial de Surf – a primeira do Brasil, motivou e turbinou a inciativa para criar o programa brasileiro, que já possui suas diretrizes, assunto discutido em três encontros nacionais.

O plano estratégico realizado pelo Comitê Gestor Local da 9ª. RMS estabeleceu como prioridades o monitoramento da água superficial do Rio da Madre; a produção do estudo Surfonomics que avalia o valor da onda; a realização de três Oficinas Comunitárias para a busca de uma solução para o saneamento básico e a criação do selo de responsabilidade socioambiental “Nossa Praia é Praia Limpa”, ações que mostrou ser possível um plano de gestão compartilhado entre a comunidade e o gestor público, sendo o surfista um dos protagonistas principais.

Para fortalecer a ideia e inserir o tema das Reservas de Surf na seara dos surfistas, após o lançamento da parceria na capital Carioca, a convite da “Casa OFF Flutuar”, durante a etapa Oi Rio Pro, no “maracanã do surf” (que já foi candidata a Reserva Mundial), os representantes da CI Brasil, Maurício Bianco; da Aprender, Mauro Figueiredo e Fabrício Almeida; da 9ª. RMS Guarda do Embaú, Marcos Aurélio Gungel (Kito) e da Associação de Surf e Preservação da Guarda do Embaú (ASPG), Amaury Piu Pereira, participaram do “Corona Talks”, quando falaram sobre o assunto.

Bianco disse que “esta é uma ótima ferramenta para proteger lugares que dispõem de ondas consistentes, que sejam críticos para a proteção ambiental e que seja desejo da comunidade a sua implantação para gerar desenvolvimento social e econômico sustentável. É o surf como vetor de proteção ambiental, desenvolvimento econômico e, como já sabemos há muito tempo, bem-estar, lazer e grande prazer.”

Coordenador do PBRS, Figueiredo esclarece que “as Reservas de Surf, a partir de uma gestão ecossistêmica, são plataformas para que a comunidade do surf possa atuar coletivamente planejando e executando soluções para a manutenção e melhoria da qualidade dos ecossistemas de surf”.

Neste sentido e com a experiência de cinco anos de atuação no Comitê Gestor Local da Guarda, Kito disse que a conservação do nosso ecossistema de surf exige um esforço muito grande com ações em diversas direções. “A criação do Programa Brasileiro das Reservas de Surf seria um reforço substancial para fortalecer estas ações, já que, como as Reservas Mundiais são escolhidas apenas uma por ano, no nosso caso, teríamos um incremento na rede mundial que busca proteger as ondas de qualidade. O Brasil tem uma zona costeira com potencial para termos diversas Reservas de Surf, o que pode estabelecer um novo marco para proteção das ondas e do ecossistema que as cercam”, explica.

Em linhas gerais os critérios para a escolha das Reservas Nacionais, que serão avaliados por um Conselho técnico-científico, praticamente são os mesmos das Reservas Mundiais: qualidade e consistência das ondas; história e cultura do pico, ecossistema de surf e apoio da comunidade local.

Portanto, se concretizado este programa pioneiro, já que além da Austrália, que iniciou este processo, atualmente apenas o Uruguai tem trabalhado a questão nacionalmente, podemos dizer que, assim como a “tempestade” brasileira dos surfistas no circuito mundial, esta “tempestade” de esforços para unir a comunidade do surf é de “bons ventos” e o “swell” poderá trazer resultados consistentes aos brasileiros na proteção dos nossos picos ícones de surf.

Se a parceria “Ecossistemas de Surf Brasil” obtiver êxito é provável que em 2023 já tenhamos a primeira Reserva Nacional de Surf (RNS).

Aloha!