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Críscia: (re)conexão com o mar através das baleias, do surf e da fotografia

A Críscia veio contar pra gente, nesse mês das mulheres, de onde ela tira tanta paixão pelos oceanos e como a fotografia foi fundamental pra ela se jogar mais nesse caminho.

06/Mar/2021 - Críscia Cesconetto - Brasil

Nesse mês das mulheres, vamos compartilhar com a nossa comunidade um pouquinho sobre a história de algumas mulheres que inspiram outras a se jogar no mar. Vem conferir um pouco da história da Críscia!

- Quem é você? 

Eu sou a Críscia, tenho 32 anos, sou bióloga, fotógrafa e cuido da curadoria e criação de conteúdo aqui no Surfguru. Na minha formação acadêmica, me especializei no estudo do comportamento de cetáceos e mamíferos marinhos e segui a carreira de consultora ambiental, tentando fazer o máximo pra proteger esses (e outros) animais marinhos. Em uma viagem que fiz pra Patagônia Argentina em 2012, eu comprei minha primeira câmera e mergulhei no mundo da fotografia de natureza. Eu queria tirar o maior proveito da viagem fazendo todos os registros que eu pudesse (e consegui!). 

baleia franca austral patagonia argentinaBaleia-franca-austral em Puerto Madrin, Patagônia Argentina (Foto: arquivo pessoal)

Alguns anos mais tarde, com 28 anos, aprendi a surfar e depois de um tempo, por causa de um pequeno acidente (uma torção no ombro e uma no pé), fiquei uns 2 meses sem poder ir pra água. Então peguei a minha câmera e ia pra praia fotografar os meus amigos surfando. Nesse momento eu tive uma “pequena” queda pela fotografia de surf. Quando eu pude voltar pra água, eu escolhi surfar mais do que fotografar, então a fotografia de surf ficou um pouco de lado. 

Aprendendo a surfar. (Foto: @andrellawrenc)

Até que surgiu uma oportunidade de eu e meu marido virmos pra Califórnia e durante os três anos que estivemos aqui, os papéis se inverteram e eu apostei muito mais na fotografia de surf, do que no surf por si só (quer ver um pouco do meu trabalho? Clica aqui!). E agora tô voltando pro Brasil! Ahh, eu também sou colaboradora no blog da Langai, incentivando mulheres a surfar (sempre!). 

- Como é a sua relação com o mar hoje? Como ela começou?

Minha relação com o mar começou quando eu era criança, quando eu ficava esperando chegar as sextas-feiras pra ver documentários sobre a vida marinha que passavam no Globo Repórter. E, mesmo morando no interior do ES, era só disso que eu queria saber. Minha mãe dizia que um dia eu ia salvar os corais da Austrália. Não foi bem isso que aconteceu (rs)! Mas eu fui atrás de seguir carreira com o mar, e cursei a graduação em Ciências Biológicas, com ênfase em Biologia Marinha, no RJ. E eu descobri durante esse tempo na faculdade que a minha verdadeira paixão eram as baleias, os golfinhos e as tartarugas. Desde então dediquei (e ainda dedico) grande parte da minha carreira como bióloga pra cuidar e salvar esses seres magníficos. Corri atrás, fiz cursos, viajei, fiz trabalhos voluntários e tudo isso fortaleceu ainda mais minha relação com o mar. Quando a fotografia entrou na minha vida, ela veio pra ficar e desde então nunca mais parei. Posso dizer que a fotografia me aproximou ainda mais do mar, agora através da fotografia de surf.


Fotografando num dos dias mais frios da minha vida - Ocean Beach, San Francisco - California (Foto: arquivo pessoal)

Hoje, especialmente, mesmo não estando tão perto do mar quanto eu gostaria, posso dizer que essa relação se baseia em muito amor e cuidado. Por causa de muito tempo “ocioso” durante a pandemia, fiquei procurando e estudando soluções pra como diminuir o lixo que eu produzia e vi o quanto isso afetava os oceanos e os ecossistemas marinhos. Tenho um grande caminho a percorrer ainda pela frente, mas cuidar dos oceanos, mesmo que de longe, já é o primeiro passo.

- Qual foi o maior perrengue que você já passou no mar?

Eu tenho certeza que nunca passei nenhum perrengue gigantesco no mar. Acredito que o pior perrengue que já passei foi ter tido um enjôo quase que constante durante uma das minhas primeiras saídas de campo durante o meu mestrado. Foram 12 horas direto no mar, em uma traineira que ficava percorrendo rotas definidas na baía de Paraty à procura de grupos de golfinhos. Por causa do enjôo eu não conseguia comer e vice-versa e além disso o calor era tão grande que eu me sentia constantemente cansada e com pressão baixa. Eu não sei como eu consegui fazer o trabalho! Pelo menos eu vi muitos golfinhos nesse dia!

- Qual é a sua melhor lembrança dentro da água?

Uma bem específica: estar lá no outside, sentada esperando a série, olhando praquela imensidão de mar e ver borrifos de baleia ao longe. Não tem nada que pudesse pagar isso, poder experienciar algumas das minhas maiores paixões ao mesmo tempo!

- Quais foram seus maiores aprendizados?

Que o medo não pode te prender, mas sim, te levar um pouco mais longe. Eu comecei a surfar porque eu sempre tive medo de onda. Se eu nunca tivesse medo de onda, talvez eu nunca tivesse me aventurado no surf. Eu também tinha medo de começar a fotografar e não ser “reconhecida”. Mas eu aprendi que melhor do que ser reconhecida pela minha fotografia era ver alguém feliz por ter ganhado sua primeira foto surfando. 

surfista no outsideNo outside de Ocean Beach, San Francisco - California (Foto: arquivo pessoal)

- Qual o seu próximo desafio? Objetivo?

Durante o tempo que passei aqui na Califórnia, mesmo sendo um dos maiores destinos de surf no mundo, eu surfei muito pouco por aqui (por diversos motivos) e acabei investindo mais na fotografia de surf, o que me trouxe aprendizados e experiências que eu vou levar pra vida. Então meu objetivo agora é voltar a surfar e me jogar ainda mais na fotografia e encontrar meu lugar nesse marzão.

críscia cesconetto fazendo fotografia em san franciscoFotografando em Ocean Beach, San Francisco - California (Foto: arquivo pessoal)

- O que diria para uma mulher que está começando a se conectar com o mar?

Se joga, com medo mesmo e vai ser feliz. O mar tem muito a nos ensinar e eu, como cientista, posso dizer que é muito provável que nunca sejamos capazes de aprender absolutamente tudo sobre o mar. Veja ele como um mundo infinito de possibilidades, e cuide dele, porque ele também é a nossa casa.