Dia Internacional da BIODIVERSIDADE: o que o surfe tem a ver com isso?
Dia 22 de maio é comemorado o Dia Internacional da Biodiversidade e vamos mostrar pra vocês o significado dessa data para o nosso país e qual a ligação do surf com essa data.
22/Mai/2022 - Sylvia Abaurre - BrasilSomos os campeões? Como assim?
Que nosso país é gigantesco todos nós sabemos. Ocupa quase metade do território da América do Sul e é o que possui a maior Biodiversidade do planeta.
São mais de 116.000 espécies animais e 46.000 espécies vegetais conhecidas, espalhadas por grandes ecossistemas marinhos e em 6 (seis) biomas terrestres (a Floresta Amazônica, maior floresta tropical úmida do mundo; o Pantanal, maior planície inundável; o Cerrado, com suas savanas e bosques; a Caatinga, composta por florestas semiáridas; os campos dos Pampas; e a floresta tropical pluvial da Mata Atlântica). O Brasil abriga o maior trecho contínuo de manguezais do mundo (1,3 milhão de hectares) e os únicos ambientes recifais do Atlântico Sul, distribuídos ao longo de 3.000 km da costa nordeste.
Estima-se que o país abriga entre 15-20% da biodiversidade do mundo, com o maior número de espécies endêmicas em escala global. A descoberta de novas espécies no Brasil está em constante expansão, com uma média de 700 novas espécies animais descobertas a cada ano.
A rica biodiversidade brasileira é fonte de recursos para o país, não apenas pelos serviços ecossistêmicos providos, mas também pelas oportunidades que representam sua conservação, uso sustentável e patrimônio genético.
Entendendo de fato o que é biodiversidade
O termo biodiversidade é amplamente conhecido e divulgado, principalmente quando o assunto é preservação ambiental. Esse termo foi criado em 1985 a partir da junção das palavras “diversidade” e “biológica” e, posteriormente, em 1986, foi utilizado em um relatório. A partir daí, a palavra biodiversidade tornou-se conhecida mundialmente, sendo até hoje utilizada em referência à vida no planeta.
Vamos no conceito mais simples: a biodiversidade, ou diversidade biológica, é o conjunto de todos os seres vivos existentes, o que inclui todas as plantas, animais e microorganismos terrestres ou aquáticos. Quanto maior a quantidade de espécies diferentes em um determinado local, mais "biodiverso" ele é.
O termo é usado em referência não apenas ao número de organismos existentes, mas também se refere à variedade genética e de funções ecológicas desempenhadas pelas diferentes espécies nos diferentes ecossistemas que elas ocupam.
A biodiversidade varia de acordo com o ecossistema terrestre, sendo bem maior em regiões tropicais do que em regiões temperadas.
Taí a principal razão, além da extensão territorial, que nos faz ser o país com maior biodiversidade do mundo. Somos grandes, possuímos um litoral gigantesco e estamos numa região tropical do globo. Reunimos as características necessárias para sermos um país tão biodiverso! Pense, por exemplo nas extensões do continente Antártico, nas Tundras da Rússia. São áreas imensas cuja biodiversidade não chega aos pés da nossa. Este é, de fato, um dos maiores tesouros do país.
Origem e marcos legais do Dia Internacional da Biodiversidade
Em 1992, o Brasil sediou a ECO 92 - Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), realizada no Rio de Janeiro. Lá foi estabelecida a Convenção de Diversidade Biológica – CDB, da qual o Brasil, junto com outros 150 países, é signatário. Desde então uma série de compromissos tem sido assumidos pelo Brasil como forma de trabalhar, principalmente, os três pilares da CDB: a conservação da diversidade biológica, o uso sustentável da biodiversidade e a repartição justa e equitativa dos benefícios provenientes da utilização dos recursos genéticos.
O Dia Internacional da Biodiversidade é comemorado anualmente no dia 22 de Maio. A data é uma homenagem ao dia da aprovação do texto final da Convenção da Diversidade Biológica, chamado “Nairobi Final Act of the Conference for the Adoption of the Agreed Text of the Convention on Biological Diversity”.
Como país mais megadiverso do mundo, o Brasil tem papel fundamental nas discussões relacionadas ao tema. Nacionalmente um dos locais de discussão do tema é a Comissão Nacional da Biodiversidade - Conabio, instituída pelo Decreto 1.354, de 29 de dezembro de 1994. No âmbito internacional, o principal fórum de discussão sobre biodiversidade é a Convenção de Diversidade Biológica – CDB.
A CDB abarca temas relacionados, direta ou indiretamente, à biodiversidade, funcionando como uma espécie de arcabouço legal e político para diversas outras convenções e acordos ambientais mais específicos.
E o venenoso peixe-leão?
Dentre os principais motivos da perda de biodiversidade, podemos destacar a superpopulação humana, a destruição de habitat, o uso excessivo dos recursos naturais, a introdução de espécies invasoras e a poluição.
Recentemente, nosso bioma marinho do nordeste foi invadido por exemplares da espécie de peixe-leão. Além de venenosos já tendo causado internação em pescadores, são um verdadeiro desastre para os recifes de corais.
Foto de Mohan Nannapaneni no Pexels
Por ser uma espécie invasora e predadora de animais vertebrados e invertebrados, o peixe-leão (ou escorpião) representa uma ameaça ao ecossistema. É uma das espécies invasoras de maior risco local por não possuir predadores naturais. Conforme as populações de peixes-leão crescem, eles colocam pressão adicional nos recifes de coral. Por exemplo, peixes-leão comem herbívoros e herbívoros comem algas de recifes de coral. Os adultos são também principalmente comedores de peixes e têm poucos predadores fora de sua de origem. Os pesquisadores descobriram que um único peixe-leão residente em um recife de coral pode reduzir o total de peixes de recife nativos em 79%.
Ele se alimenta de presas normalmente consumidas por pargos, garoupas e outras espécies nativas comercialmente importantes. Isso significa que sua presença além de destruir os recifes de coral, pode afetar negativamente a pesca comercial e recreativa. Em um intervalo inferior a dois meses, o arquipélago de Fernando de Noronha registrou 11 ocorrências de peixes-leão. É um problema, e dos grandes.
Fica aqui o alerta para os esportistas do mar que podem ainda estar desavisados sobre esta espécie que passou a lhes fazer companhia.
Todo cuidado é pouco! Vejam bem onde pisam no caminho para as ondas…
Como nosso foco é MAR, vamos ver o que tem o Brasil em todo este gigantesco litoral!
A Zona Costeira do Brasil é uma unidade territorial que se estende, na sua porção terrestre, por mais de 8.500 km, abrangendo 17 estados e mais de quatrocentos municípios, distribuídos do Norte equatorial ao Sul temperado do país. Inclui ainda a faixa marítima formada por mar territorial, com largura de 12 milhas náuticas a partir da linha da costa . Possuímos uma das maiores faixas costeiras do mundo, entre a foz do rio Oiapoque, no Amapá e Chuí, no Rio Grande do Sul. A Zona Marinha tem início na região costeira e compreende a plataforma continental marinha e a Zona Econômica Exclusiva – ZEE que, no caso brasileiro, alonga-se até 200 milhas da costa.
Infográfico: Projeto Golfinho Rotador (ICMBio)
Os sistemas ambientais costeiros no Brasil são extraordinariamente diversos. Nosso litoral é composto por águas frias, no sul e sudeste, e águas quentes, no norte e nordeste, dando suporte a uma imensa biodiversidade em manguezais, recifes de corais, dunas, restingas, praias arenosas, costões rochosos, lagoas, estuários e pântanos que abrigam inúmeras espécies de flora e fauna, muitas das quais só ocorrem em nossas águas e algumas, infelizmente, ameaçadas de extinção.
Desses ecossistemas destacam-se os manguezais, berçários de diversas espécies marinhas e de água doce e os recifes de coral, aclamados como os mais diversos habitats marinhos do mundo. Sim, aqueles corais que, de quando em vez, arrancam seu sangue, surfista!
Muitos organismos vivem direta ou indiretamente dos ecossistemas recifais, utilizando-os principalmente como áreas de reprodução, alimentação e refúgio. Os ecossistemas recifais possuem alta diversidade biológica, sendo o número de espécies existentes semelhante quando comparado ao das florestas tropicais. Existem espécies permanentes que passam todo o ciclo de vida junto a estas áreas, além de outras ocasionais e oportunistas que utilizam os recifes para reprodução e alimentação.
Os surfistas: guardiões costeiros da Biodiversidade
Dos Estados Unidos a Bali, há cada vez mais evidências que sugerem que o surfe pode ser surpreendentemente benéfico para a manutenção da biodiversidade e do ecossistema costeiro.
Foto de Khairul Leon no Pexels
Além de restringir empreendimentos danosos e promover o saneamento de águas residuais e do lixo, a proteção dos pontos de surfe tem sido associada a impactos positivos mais amplos no ambiente marinho.
Uma razão é que as próprias características do fundo do mar responsáveis por boas ondas também proporcionam bons habitats para a vida marinha. As melhores praias para surfe dependem das propriedades e configurações geofísicas únicas do fundo do mar, que incluem esses ecossistemas bentônicos.
Ao proteger as praias de surfe de ameaças como o desenvolvimento de infraestrutura (como cais ou quebra-mares), os surfistas, mesmo sem estarem conscientes disto também protegem essas mesmas propriedades geofísicas que os ecossistemas bentônicos exigem para existir.
As regiões bentônicas — o fundo do mar e as águas próximas a ele — são particularmente ricas em biodiversidade. Elas proporcionam habitats para peixes, o crescimento de plantas marinhas e algas que podem capturar carbono, e também protegem a costa da erosão e de inundações, amortecendo a ação das ondas com sua flora.
De um estudo de 2019, veio a observação que os picos de surfe mais icônicos — aqueles com grandes ondas e uma forte cultura de surfe — devem ser protegidos não apenas por seu valor para os surfistas, mas seus benefícios para o meio ambiente, bem-estar humano e potencial para o turismo sustentável.
Este mesmo estudo recomendou também que os governos e a sociedade civil considerem o uso do surfe e os esportes marinhos para reconectar os cidadãos com os ambientes marinhos naturais.
Os surfistas fundaram muitas organizações de conservação de destaque em todo o mundo, incluindo a Save The Waves, a Surfrider Foundation, com sede nos Estados Unidos, e a Surfers Against Sewage, no Reino Unido.
Foi conhecida a luta dos surfistas do Rio de Janeiro na criação, em 2001, do Parque Municipal da Prainha com 147 hectares. O parque é recoberto por diferentes formações vegetais típicas da Mata Atlântica, além de vegetação de costão rochoso. Abriga fauna e flora muito diversificadas, incluindo espécies ameaçadas de extinção. Encontram-se mamíferos como: gato-do-mato, cachorro-do-mato, mão pelada, gambá, cuícas, mico estrela, coelho do mato, paca e roedores.
Entre as aves, estão dezenas de espécies como periquitos, maitacas, colibris, corujas, rolinhas, bem-te-vis e gaviões. Destacam-se as serpentes como a jararaca, jararacuçu, cobra-cipó e a caninana, além de uma variedade de lagartos. A Associação de Surf da Prainha é parceira da Prefeitura do Rio em ações de educação ambiental e gestão da área.
Todos nós sabemos que o surf é mais que um esporte: é cultura, estilo de vida e conexão com a natureza. O habitat natural dos surfistas são os ecossistemas de surf, ou seja, o oceano, a praia, a orla e todos os ecossistemas do entorno que tornam cada lugar único, diverso e especial. Partindo do princípio de quem ama, cuida, cabe aos surfistas de todas as idades, gêneros e modalidades exercer sua cidadania ambiental e ser um exemplo para a sociedade na preservação, conservação e regeneração ambiental.
O exercício da cidadania ambiental pressupõe o cumprimento de direitos e deveres ecológicos e envolve a participação e a cooperação para a efetivação de políticas públicas ambientais.
As gerações futuras agradecem!
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Sylvia Abaurre foi nascida no ano da graça de 1960 e criada na beira do mar. Maratimba de uma vila de pescadores chamada Manguinhos, saia de casa e pisava na areia da praia. Acostumou-se a ouvir as cantigas das esposas dos pescadores que passavam as noites limpando peixes sob os quitungos na praia, sob a luz de lampiões. Sua relação com o mar é profunda e tem o tempo de uma vida. Durante a infância, rolou na areia, pescou, pegou muito "jacaré". Aprendeu um pouco a ler o tempo e o mar. Cresceu e resolveu entender melhor um pouco como funcionava este ambiente que tanto a acolhia e atraia. Foi cursar Biologia na UFES e adquiriu ainda a consciência ambiental que era intuitiva na infância. A vida profissional deu uma guinada e foi para o campo da tecnologia. Nunca largou da praia e do mar. Foi uma das primeiras bodyboarders aqui do ES e continua a pegar onda sempre. Também tem um caiaque onde gosta de remar e explorar os arrecifes por aqui. Na pandemia da Covid-19 tomou gosto pela natação em águas abertas e é o que faz todo dia entre as 6 e 7 da manhã, depois que se aposentou: nada entre 1,5 e 3,5 km e diz bom dia às tartarugas e golfinhos locais.
Instagram: @sylvia_abaurre