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El Niño e a temporada de surf 2023/2024 no Brasil

Teremos mais ondas? Ondas grandes? O que esperar!

18/Set/2023 - Branco Eguchi - Brasil

Pra você que tá ligado nos conteúdos do Surfguru, já deve saber que estamos em anos de El Niño e que esse fenômeno muda a atividade das ondas que surfamos. Se ainda não tá por dentro confere aqui.

Em resumo, o El Niño favorece a formação de tempestades no hemisfério sul, trazendo grandes ondulações. O contrário acontece no hemisfério norte, onde há uma diminuição das tempestades que geram grande ondulações.

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As tempestades se deslocam do sul da américa do sul em direção ao continente africano. Em condições normais, afetam principalmente a região sul e parte da região sudeste do Brasil. Porém, sob o efeito do El Niño, essas tempestades conseguem avançar mais sobre a costa do Brasil, podendo chegar até ao sul da Bahia.

Fonte: Branco Eguchi

Neste post vamos falar das tempestades formadas por baixas pressões, também chamadas de ciclones. No hemisfério sul os ciclones giram no sentido horário.

Outro fator importante é o ASAS, lembra dele? Se não lembra, vamos fazer uma revisão. O ASAS é a sigla para Alta Pressão ou Anticiclone Subtropical do Atlântico Sul, que nada mais é do que o sistema que produz os ventos de tempo bom. Assim como toda alta pressão no hemisfério sul, o ASAS gira no sentido anti-horário.

Se você tá achando isso tudo muito confuso, calma! Vamos desenhar como a tempestade atua e quais possíveis cenários de ondas que poderemos encontrar nessa temporada de surf 2023/2024 com o favorecimento das tempestades pelo El Niño.

Primeiro momento: O tempo bom

Antes da tempestade temos a prevalência dos ventos de N, NE e E em todo sul, sudeste e parte do nordeste do Brasil. Na região norte e nordeste é comum temos o vento SE. Esses ventos são gerados pelo ASAS e geralmente produzem ondas pequenas.

Fonte: Branco Eguchi

Segundo momento: A formação da tempestade

Os primeiros sinais da tempestade são sentidos principalmente na região sul do Brasil. Nesse momento chegam os ventos fortes e as grandes ondulações de SO e S. O restante do país ainda está recendo ondas de tempo bom geradas pelo ASAS.

Fonte: Branco Eguchi

Terceiro momento: A tempestade

Depois de se formar, a tempestade começa a migrar ao longo da costa do Brasil. Nesse momento temos ondas grandes principalmente de S e SE em todo o sul, sudeste e parte do nordeste país. A região norte e nordeste sente muito pouco os efeitos dessa tempestade e ainda recebem ondas pequenas.

Fonte: Branco Eguchi

Quarto momento: O fim da tempestade

A tempestade então continua migrando ate se afastar da costa do Brasil. Nesse momento as ondas começam a diminuir e volta a prevalecer o padrão de ondas de tempo bom.

Fonte: Branco Eguchi

Agora vamos aos nossos cenários! É importante ressaltar que os cenários representam situações prováveis, porém, tudo depende de como as tempestades vão migrar e interagir com outros sistemas.

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Cenário 1: Aumento das ondas e maior duração das tempestades

Nesse cenário a tempestade e os ASAS se tocam e os giros se aceleram. Com ventos mais fortes as ondas podem ser geradas por mais tempo e podem ainda aumentar seu tamanho. Esse feito pode ser sentido tanto pela baixa pressão quanto pelo ASAS, aumentando as ondas em todo o país.

Fonte: Branco Eguchi

Cenário 2: O cenário 1 um pouco diferente

O aumento da velocidade dos giros acontece da mesma forma que o cenário 1, porém agora a posição do ASAS e da tempestade favorece a formação de grandes ondas vindas de E para a região sul, sudeste e parte do nordeste do país.

Fonte: Branco Eguchi

*Observação: As tempestades também podem ser geradas por altas pressões que possuem giros no sentido anti-horário. Neste caso a interação da tempestade com o ASAS ocorre de forma diferente. Para ter uma ideia de outros possíveis cenários da uma olhada aqui nesse post.

Panorama geral para a temporada 2023/2024

De modo geral, no inverno há uma maior atividade na formação de tempestades. Isso indica que podemos ter entradas de grandes ondulações, principalmente vindas dos quadrantes SO, S e SE. No entanto, durante o inverno o ASAS se fortalece. Então dependendo da sua posição e forma, o ASAS pode atuar como uma barreira para a migração das tempestades e impedir que grandes ondulações cheguem ao sudeste e sul da Bahia.

Mas nem tudo está perdido! Sabendo que o El Niño favorece a migração das tempestades é possível que vejamos os cenários 1 e 2 durante o inverno, com ASAS intensificado e interagindo com os ciclones. Esse é o sinal de esperança principalmente para as regiões nordeste e norte, já que durante o El Niño as tempestades no hemisfério norte diminuem. Assim não são esperadas grandes ondulações vindas dos quadrantes NO, N ou NE.

Durante a primavera o ASAS se enfraquece, então as tempestades tem caminho livre para migrar ao longo da costa do Brasil. Com o El Niño favorecendo este padrão, podemos ter uma grande recorrência de ondas em todo sul e sudeste do país.

No verão é quando temos a menor atividade de formação de tempestades, então mesmo com a atuação do El Niño esta não é a estação mais favorável para as grandes ondulações. No entanto, durante o verão o ASAS volta a se fortalecer. Assim caso alguma tempestade consiga se formar e migrar ao longo da costa, existe a possibilidade de interagir com o ASAS e ganhar força. Caso isso aconteça, podemos ter boas ondas em todo litoral do país.

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Branco Eguchi é pesquisador do Laboratório de Geomorfologia e Sedimentologia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). O enfoque de sua pesquisa é a erosão de praias e eventos de ondas extremas. Possui graduação e mestrado em Oceanografia pela UFES, onde atualmente é aluno de doutorado. Trabalha também com o projeto Oceanografia Para Todos, que faz divulgação científica através da adaptação de conteúdo para uma linguagem acessível. Desde garoto pratica pesca e surf, buscou na oceanografia uma forma de entender melhor os fenômenos que observava no mar para conseguir pegar mais peixes e principalmente ondas.

Instagram: @brancoeguchi / @oceanografiaparatodos