Henrique Sposito - Fiji 2012
Decidi junto com meu amigo de surftrips de longa data Leonardo Maranhão que esse ano iríamos desbravar uma onda que nunca havíamos surfado. Com 12 temporadas de Indonésia e 1 de Maldivas, escolhi conhecer Fiji, com suas ainda um pouco intocadas ondas
25/Jul/2012 - Henrique Sposito - Ilhas FijiAinda nocauteados pelas imagens do campeonato da Volcom, embarcamos rumo a Fiji via Los Angeles pela Copa Airlines. Essa companhia aérea só leva 2 pranchas por passageiro, fato esse que nos faria pensar em comprar mais uma prancha em LA para completar nossos quivers.
Nosso amigo pernambucano Gercino Lins que mora em LA há mais de 10 anos foi nos buscar no aeroporto e nos levou à loja da Channel Islands onde parecemos crianças com tanta variedade de pranchas de qualidade. Compras feitas, jogamos as tablas novas nas capas e voltamos ao aeroporto para nosso voo de 10 horas até Nadi, cidade do aeroporto de Fiji.
Após um voo tranquilo, agilizamos um taxi para nos levar até nossa pousada que ficava a 40 minutos do aeroporto. Nosso taxista, Ratu, acabou se tornando mais um brother, tendo nos levado pra todos nossos destinos por lá. Nossa pousada, chamada Rendezvous, ficava a 30 minutos de lancha de Cloudbreak. No dia que chegamos, conheci um big rider de Mavericks, Ryan Seelbach, amigo do pernambucano residente na Califórnia Alexandre Martins, que estava hospedado no nosso pico e falou que o mar estava muito pequeno mas que subiria bastante nos proximos 2 dias.
No segundo dia fomos fazer um surf de metade do dia para conhecer a onda de Cloudbreak. O esquema lá é todo dependente de barcos, que ficam rodando os picos o tempo todo. Cada pousada ou resort tem o seu, às vezes mais de um. O Rendezvous tinha 3 e o Tavarua Resort tinha 6, que ficam levando seus hóspedes pra onde eles solicitam. Mas isso também nos faz de reféns, pois cada saída é cobrada em meio dia ou dia inteiro, dependendo do tempo que ficarão fora, que no nosso caso tinha que ser acertado antes de entrar no barco. E não era barato, custando 100 dólares de Fiji por pessoa por meio dia, ou 200 pelo dia inteiro. Cada dólar de Fiji equivalia a R$1,25 aproximadamente. Nós tínhamos também que levar tudo que fôssemos precisar no barco, pranchas e equipamentos reserva, água, comida, lanches, e até uma vara de pescar que nos rendeu mais de 8 peixes fisgados na viagem.
Na volta desse primeiro surf, Léo foi fazer um velejo de kitesurf visto que à tarde quase sempre entra um vento forte por lá. Ele fez um velejo na ilha de Namotu, perto da ilha de Tavarua, que serviu para conhecer o potencial do lugar. No outro dia, o mar foi subindo rapidamente, tendo começado com 3 pés pela manhã e terminando com quase 8 pés sólidos de onda no fim de tarde com um vento forte.
Foi uma grande sessão de surf, com vários tubos pegos e assistidos por todos no mar. A onda de Cloudbreak tem 2 sessões bem definidas que nos melhores dias emendam numa onda só muito longa. O outside com mais força e uma onda mais manobrável e também tubular, e o inside, também conhecido como Shish Kebabs, que é dropar e colocar pra dentro, finalizando a onda num quebra coco que se a pessoa for pega, vai ter que dar uma volta longa em águas bem rasas com fundo de coral.
Quem estava nesse mar detonando tudo foi Joel Parkinson, junto com um pessoal da Billabong Australia, que estavam hospedados no Tavarua Resort. Ele realmente é um mestre do estilo e tudo parecia mais fácil, com drops em ondas que achávamos fechadas virarem tubos e manobras no mais crítico. Nesse dia, no apagar das luzes, passa ao lado de nosso barco ninguém menos que Kelly Slater, todo vestido de preto, que soubemos que tinha acabado de chegar direto do avião para o mar. Mas ele nem caiu, ficando apenas a observar a performance dos mortais pois o melhor ainda estava por vir.
A previsão para o dia seguinte era de 8 a 12 pés de onda, com o vento fraco durante o dia todo. A tensão foi grande durante a noite e acordamos na primeira luz do dia para seguirmos em direção a Cloudbreak. Chegando lá, a primeira visão foi de Slater e Parko nos fazendo acreditar que o mar dava para todos nós. Ledo engano. Apesar deles pegarem vários tubos em momentos críticos na maior calma, as ondas surfadas pelos outros não eram bem assim, e de tempos em tempos vinha uma série de 12 pés fechando tudo e levando os desatentos para um passeio nada agradável pelo inside.
Não havia mais de 10 pessoas no mar nessa hora. Como achamos que o mar não dava para nossa condição, seguimos para Namotu Lefts, uma esquerda muito boa, com uma parede manobrável que estava quebrando com 6 a 8 pés de onda. Pegamos altas na mare enchendo até o meio dia e de lá seguimos para a onda de Restaurants, em frente à ilha de Tavarua. Chegando lá quase não acreditamos no que víamos. Uma esquerda de uns 6 pés enroscando numa bancada que chamar de perfeita é pouco. Simplesmente nenhuma onda fechava, fazendo com que voássemos em direção ao pico que naquela hora tinha umas 15 pessoas, mas muitas delas já prestes a sair pro almoço.
Fizemos uma sessão clássica, com vários tubos e muitas manobras desferidas em todas as ondas. As ondas da série iam aumentando à medida que iam seguindo na bancada, e voltávamos para o pico cansados de tanta distância percorrida. Além disso, várias ondas sobravam sem ninguém nessa volta pois muitos caíam no meio tentando manobras ou simplesmente estavam muito atrás do pico na hora da série. E tome virar a prancha e pegar a onda pelo meio. Nem preciso dizer que a água do mar cristalina e a vida marinha abundante e praticamente intacta nos faz parecer que estávamos surfando num aquário.
No dia seguinte a sessão se dividiu entre a onda de Swimming Pools, uma direita rápida e manobrável e nossa já familiar Restaurants, onde surfamos na mare cheia e seca até escurecer, com direito a Slater aparecendo nos últimos momentos.
No terceiro dia do big swell, passamos o dia em Cloudbreak, com ondas de 6 a 8 pés simplesmente perfeitas com o vento glassy o dia inteiro. Era dropar e colocar pra dentro. Nesse dia pudemos comprovar a qualidade dessa onda e sentir um pouco do power do swell que estava terminando.
Ainda surfamos mais um dia antes do flat chegar em boa hora pois os braços quase não aguentavam mais depois de tantos dias surfados. Tiramos 3 dias pra conhecer o resto da ilha principal de Fiji, Viti Levu, onde fomos costeando o litoral sul, checando o potencial de surf pouco explorado até a capital, Suva. Vimos boas ondas no caminho, principalmente na região de Sigatoga onde conhecemos um local que comandava um pequeno surfcamp e disse que tinha surfado mais cedo uns 4 a 6 pés de onda quando Cloudbreak não tinha nem 2.
Depois desse rápido turismo, voltamos pra o Rendezvous pois o swell estava chegando. Infelizmente esse swell não foi tão grande quanto o primeiro e veio com muito vento. Mas ainda assim acertamos nas escolhas pois surfamos Restaurants com poucas pessoas. Um sonho pois as series vinham de 15 em 15 minutos e eram todas nossas. Nesse ultimo dia, o mar estava de 4 a 6 pés na série sem ninguém. Devido a direção do swell, os tubos estavam mais abertos e nossas últimas ondas nesse paraíso foram tubos e mais tubos.