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Homem e água: uma relação através do tempo

No dia 22 de março é comemorado o Dia Mundial da Água. Mas qual a relação do ser humano com esse recurso tão precioso?

21/Mar/2022 - Maykol Hoffmann - Brasil

Há 30 anos, no dia 22 de março de 1992, a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou a Declaração Universal dos Direitos da Água e instituiu o Dia Mundial da Água. Mas o que torna esse bem comum tão importante? Qual a relação dele com os seres humanos para que exista um dia próprio em sua comemoração?

A água é a grande preciosidade da terra em relação a outros planetas. Nela surgiram os primeiros organismos e a mesma controla todo nosso clima, possibilitando a sobrevivência dos seres vivos. É por meio dela que o ser humano obtém alimento, recursos, transporte, produção de energia, entre outros. Mas temos retribuído esse favor?

Através do tempo, a água teve grande importância. A própria formação das civilizações humanas é influenciada pela mesma, visto que a disponibilidade de água era uma das primeiras preocupações para a instalação dos grupos, de forma que fosse possível a utilização desse recurso. Isso fica evidente quando destacamos que os primeiros registros escritos da humanidade, aproximadamente 4.000 a.C. na Mesopotâmia, tratam-se justamente de instruções para irrigação de lavouras dispostas em terraços.

Foto de AbdElmomen Kadhim no Pexels

Embora as primeiras povoações sempre se localizavam próximas às fontes de água, as transformações de pequenos grupos em grandes cidades levava a uma demanda muito maior do recurso, bem como deixava essas fontes sujeitas a superexploração e contaminações. A partir daí a manipulação da água pelo ser humano se desenvolvia cada vez mais. 

  • Os egípcios controlavam o fluxo do rio Nilo com a construção de dique e projetavam os níveis de água durante os períodos do ano.
  • Os Maias realizavam a captação da água da chuva por meio de canos instalados na base de suas pirâmides.
  • Na Pérsia, a água era canalizada por galerias subterrâneas, que levavam água das montanhas para as habitações nas planícies.
  • Na Grécia, foi desenvolvida uma tecnologia para captação e distribuição de água a longas distâncias, utilizando galerias, canalizações pressurizadas e o princípio de vasos comunicantes.
  • Os romanos, no século IV a.C., tinham o consumo aproximado de 750 milhões de litros de água em suas termas e banhos públicos, que eram abastecidos por aquedutos e o esgoto transportado por canalizações.

Já durante a idade média o meio de transporte hídrico era muito notável e essencial para o andar da economia. A água se tornava cada vez mais vital para o desenvolvimento da mesma, devido a implementação de moinhos que impulsionaram as atividades como moagem, tecelagem e tinturaria. Contudo, durante esse período houve um retrocesso:

  • Grandes cidades possuem baixas condições sanitárias.
  • A expansão urbana levou a realização de aterros e drenagens.
  • Baixo consumo de água pela população, chegando aproximadamente a um litro por dia.

Esses retrocessos levaram epidemias como a de cólera, tifo, a peste negra, varíola e a lepra, a partir das quais foi se desenvolvendo o conhecimento quanto a importância das condições sanitárias, higiene básica e acesso à água potável, como até hoje podemos observar na atual pandemia de Covid-19.

Foto de Lucas Meneses. Fonte: Pexels

Para um último flashback na relação entre homem e água podemos destacar a revolução industrial. Esse período foi marcado por uma intensa degradação do meio ambiente. A alta eficiência das indústrias, o foco no lucro e a relação entre as classes sociais, levaram a uma mudança de paradigma na relação entre homem e ambiente, onde a utilização dos recursos passou a ser visando principalmente o consumismo em detrimento ao atendimento das necessidades. Isso levou a altas taxas de desmatamento e contaminação do solo e das águas.

Infelizmente, este quadro não é muito diferente do que vemos atualmente, seja qual for o corpo d’água, lagos, rios, lagunas e até mesmo o oceano, sofrem com pressões constantes vindas principalmente das ações humanas, como despejo de contaminantes, resíduos sólidos como plástico, o desmatamento de matas ciliares, aterro de áreas de mangue, entre outros.

Fonte: Pexels

Como o surf pode entrar nessa jogada?

Além dos bens e serviços prestados pela água, o mar, por exemplo, tem ligação sentimental com as pessoas. A imensidão azul desperta fascínio no homem, do artista ao cientista, do pescador ao surfista, todos podem ter suas vidas influenciadas pela relação com o mar.

Essa relação entre o meio natural e o ser humano tem impactos positivos na saúde mental. Esse contato intenso com o natural, como o surf, pode influenciar os indivíduos a mudança ou defesa de atitudes e valores ligados às causas ambientais, podendo levar a uma alteração do estilo de vida. Isso torna o surf um potencial promotor da mobilização comunitária em prol de lutas como a conservação. 

O que podemos fazer? 

Ainda é tempo de lutar por esse bem precioso que participou na moldagem da nossa sociedade e nos garante condições de vida no planeta. Iniciativas são o que não falta, como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e a Década dos Oceanos estabelecidos pela ONU. Mas é claro que qualquer mudança começa por nós mesmos. Então é sempre bom utilizarmos a água de forma conciente, estar de olho no que nós podemos fazer pelo ambiente e em ações que possam estar acontecendo próximo a nossas casas e que poderiamos ser voluntários, como coletas de lixo em praias.

Povos antigos viam o movimento da água como o sangue que circula em nossos corpos. Que possamos entender que cuidar de nós também é cuidar do ambiente onde vivemos, é cuidar da água que nos dá vida e a milhares de outros organismos, por menores que forem.

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Maykol Hoffmann Silva é biólogo pela Universidade Federal do Espírito Santo, onde atualmente é aluno do mestrado em Oceanografia Ambiental. Sua linha de pesquisa é a ecologia do ecossistema manguezal, com foco na dispersão de propágulos. Desde pequeno é obcecado pelo mar e todas criaturas que habitam o mesmo.