No Brasil o Surf Começou com o Espírito Aloha
Nosso esporte, no Brasil, nasceu em Santos, da maneira como tinha que ser. Democrático. Por puro prazer.
28/Dez/2011 - Edinho Leite - Santos - São Paulo - Brasil"Olha, o homem andando em cima da onda?" Imaginem a surpresa que as pessoas experimentavam quando viam o primeiro surfista do Brasil nas ondas, lá pelos idos de 1935. Deve ter sido incrível. Pois é, Santos foi o berço do surf no Brasil.Thomas Rittscher, filho de americanos, o nosso Duke Kahanamoku construiu a primeira prancha brasileira a partir de um modelo que viu na revista Popular Mechanics. Ele mesmo se dizia um cara não muito persistente, mas a verdade é que, além de ser um grande atleta de inúmeras modalidades aquáticas, o cara se superou ao surfar as primeiras vezes com a prancha invertida. Como? Ele não tinha idéia de como utilizar a “embarcação” e, por algum tempo, surfava com a rabeta para frente. Depois pensou se não seria mais fácil deslizar sobre as ondinhas santistas com a ponta mais arredondada para frente. Deu certo.
A empolgação sempre foi sua marca registrada, mas Mr. Rittscher não surfou por muito tempo. Tudo bem, foi o bastante para deixar adeptos, no melhor espírito ALOHA. Sua irmã, que começou com ele, depois Jua Haffers, amigo que pegou a tal revista emprestada e fez outra prancha, e Osmar Gonçalves, que por muito tempo foi considerado o primeiro surfista brasileiro. Poderia levar também o título de explorador, já que surfou no Itararé, Porta do Sol [São Vicente], Pernambuco e Tombo, no Guarujá. Mesmo gostando de ondas maiores [1,5m] chegou a confessar que sempre ficou meio cabreiro com o Tombo. Imagino que não devia ser nada fácil pegar ondas minimamente mais cavadas com aquela “barca”. O bacana é que não houve preconceitos. Thomas ajudou sua irmã e outros amigos a pegar as primeiras ondas. A segunda guerra estourou e Thomas, já empolgado com a vela [claro, ele mesmo fez seu primeiro barco à vela], teve que mudar-se para o Rio de Janeiro, onde dedicou-se mais ao novo brinquedo.
Em novembro passado, aos 94 anos, ele faleceu de causas naturais. Nunca ficou chateado ou com inveja de, por tanto tempo, não terem lhe dado os devidos créditos. Mas a verdade é que ele parecia o tipo de cara mais interessado em fazer as coisas pela diversão que lhe proporcionavam do que pela fama ou qualquer outro motivo. Que bom. O surf nasceu no Brasil com o espírito certo.