Projeto Ceará Barravento chega ao fim
Na semana passada o relatamos a primeira parte de uma superaventura vivida por um grupo de amigos kitesurfistas que pegaram a estrada à procura da onda perfeita pelo Litoral Oeste cearense.
19/Mar/2015 - Celio Beleza - Ceará - BrasilAgora, chegou a hora de saber como terminou essa expedição, os lugares por onde essa turma passou, os perrengues que enfrentaram e as alegrias vividas pelos mais de 300 km percorridos tanto pela praia, quanto pela Estrada do Sol Poente.
Na primeira quinzena de março embarcamos em uma trip com um grupo de quatro amigos kitesurfistas da modalidade Wave. O objetivo era fazer um Surfari, isto é, uma caçada em busca de ondas já que a temporada cearense de surf está “de vento em popa”.
Contudo, as mesmas condições que trazem as boas ondas para o estado, são as mesmas que interferem na condição de ventos. Durante a passagem do grupo pelas praias da Taíba e do Paracuru os ventos se combinaram com um bom swell proporcionando condições épicas para o kitewave, como nos explicou o atleta Célio Beleza:
“Tivemos muita sorte, pois, além da boa ondulação que entrou em toda costa cearense, os ventos também foram os melhores que rolaram até agora em 2015... Foi inacreditável já que as previsões apontavam para uma quase que total ausência de ventos e muita chuva, condição ideal para o surf, mas adversa para o kite. Pegamos dois dias de ondas e ventos incríveis, comprovando o que já sabíamos, que essas duas praias são algumas das melhores do Brasil para a prática do kitewave”, afirmou o atleta.
Contudo, nos dias que se seguiram, a chuva praticamente não deu trégua para nossos aventureiros. Após a passagem por Paracuru, o destino foi o Guajiru, uma praia muito procurada por ainda conservar o ar bucólico típico das vilas de pescadores e ser o ponto equidistante entre Jericoacoara e Fortaleza. Muita chuva e quase nenhum vento forçaram nossos caçadores a seguir viagem e apostar em melhores condições para o velejo, mesmo observando que uma boa ondulação estava quebrando no Guajiru. Até renderia um surf, mas como o objetivo era uma trip exploratória de kitewave, decidimos seguir viagem.
O extremo leste do nosso litoral, onde estão localizadas praias como Preá e a internacionalmente famosa Jericoacoara, é considerado um dos melhores lugares do mundo para a prática de esportes como kite e windsurf e logo que chegamos em Jeri decidimos que iríamos apostar todas as nossas fichas em uma praia que nenhum de nós conhecia: a paradisíaca Tatajuba. A noite anterior fora de muita chuva, mas assim mesmo não deixamos a moral cair. Tínhamos de acreditar que mais cedo ou mais tarde o vento apareceria e quando isso acontecesse todos precisariam estar a postos. Logo que amanheceu arrumamos as tralhas e equipamentos e partimos em direção à Tatajuba.
Logo no caminho da ida ficamos chocados com a idílica beleza do Mangue Seco, uma região de paisagem fantástica que mais parecia uma mistura do surrealismo de um quadro de Salvador Dali com o mundo encantado do País das Maravilhas. Em determinados momentos sentíamos como se estivéssemos em uma região coberta de neve, uma visão incrível que poucos cearenses têm o privilégio de conhecer. Após essa experiência singular ainda fizemos uma travessia de balsa sobre um rio, na qual fomos alertados para tomar cuidado com o horário do retorno, pois, a maré estava alta e isso poderia nos trazer problemas na volta até Jeri. Depois de mais alguns quilômetros em meio a uma paisagem exuberante, finalmente chegamos à Praia da Tatajuba, uma semana depois do início da trip. A praia da Tatajuba é um daqueles casos de lugar difícil de descrever sem cair em clichês ou parecer piegas. Tudo é tão encantador que parece faltar até palavras para descrever. Só mesmo conferindo pessoalmente para se ter uma real noção do que estou falando. Mesmo com o céu ameaçando desabar em nuvens escuras e carregadas nada era capaz de diminuir nossa emoção de estar em um local tão especial, nem mesmo a total ausência de ventos.
Após o delicioso peixe frito do almoço, servido ali mesmo, à beira mar, pelo Zezinho, que é professor de kite, já estávamos conformados em retornar à Jeri sem o velejo, afinal de contas, como reclamar de qualquer coisa em um lugar tão incrível! A maré começou a subir rapidamente e as redes armadas às margens do lago de água salgada formado pela maré eram um convite ao descanso, afinal de contas, estávamos na estrada há dias.
Gustavo Foerster foi o primeiro a embalar seus sonhos de uma trip de verão nas simpáticas e charmosas redinhas. Mas, seu descanso foi interrompido quando de repente o vento deu as caras e começou a aumentar rapidamente. Osvaldo, ativista do kite na localidade, correu para armar seu kite e já foi caindo na água, seguido por toda turma. Mais que de repente, o céu abriu e a sorte estava de novo do nosso lado. E com as pipas ao vento e as pranchas na água a equipe aproveitou o penúltimo dia de viagem para fazer um dos velejos mais especiais de toda trip. Depois de cerca de uma hora de diversão, de repente o tempo fechou. Foi quando decidimos retornar à nossa base em Jeri. A maré já estava alta e nós, muito atrasados em relação ao horário da balsa. E como toda trip tem de ter algum perrengue, não poderíamos ficar sem uma história de terror para contar. Quando fomos atravessar a primeira das duas balsas da volta (como a maré havia subido, para sair da Tatajuba precisaríamos pegar mais uma balsa) enfrentamos a situação mais crítica de toda viagem.
Logo que o carro de apoio subiu e a balsa começou a se mover, em um leve descuido, o carro andou um pouco e os pneus da frente caíram no rio. Com mais da metade do carro dentro d’água e o motor ainda funcionando o alvoroço foi inevitável para evitar um prejuízo que parecia iminente.
Rapidamente, todos que estavam na praia correram para ajudar, enquanto os atletas viam toda movimentação do outro lado do rio, sem entender muito bem o que estava se passando, já que o carro deles já havia atravessado. A experiência dos operadores da balsa foi fundamental para que a trip não terminasse de maneira trágica. E com muito trabalho em equipe, após intermináveis minutos de muita aflição, conseguimos evitar que o pior acontecesse e sob calorosos aplausos de todos que ajudaram no resgate, seguimos nossa viagem que ainda nos reservaria fortes emoções até a chegada em Jeri, pois, a maré estava tão alta que em determinados lugares parecia que o mar iria nos engolir. Nossa! Por que será que sempre tem de rolar uma treta em toda trip?
KiteBuggy
Passado o susto só nos restava aproveitar o último dia da trip em Jericoacoara e quem sabe ver o famoso por do sol na duna, ir na Pedra Furada etc. Mas na verdade, a turma não estava afim de turismo. O que todos queriam mesmo era velejar. Foi quando o Felipe do kitebuggy apareceu com sua engenhoca e botou todo mundo pra curtir a duna de Jeri de uma forma inusitada. Quando me dei conta, não somente os atletas Célio Beleza e Gustavo Foerster como também o Léo Veras e o Leo de Castro já estavam voando baixo e em alta velocidade na perigosa duna de Jeri para encerrar a trip com chave de ouro. E ainda rolou um SUP Wave de luxo nas pequenas, mas longas e perfeitas, ondas de Jericoacoara, para coroar uma das mais espetaculares trips que já realizei. E quando digo isso não estou exagerando. Juntos, vivemos uma das aventuras mais alto-astral de toda minha vida. A combinação entre atletas profissionais e praticantes comuns serviu para mostrar que tudo o que vivemos pode ser experimentado por qualquer pessoa. Outro aspecto que tornou essa expedição diferenciada foi a impossibilidade de se fazer qualquer tipo de planejamento, pois nunca sabíamos ao certo quando e onde o vento e as ondas apareceriam. A trip foi se construindo naturalmente e no final percebemos que havíamos vivido uma aventura sem igual que ficará marcada nas memórias e espíritos de todos que participaram ou simplesmente estiveram conosco durante o percurso.
Agora, é só esperar a chegada da temporada de ventos para desbravar novas aventuras em lugares inéditos pelos quase 600 km de litoral cearense. E claro, você leitor sempre será nosso convidado.