Retrospectiva: Brasil Abre ‘Medina Airlines’, e Slater ‘Paga Pato’ por Mico

Hendecacampeão ou undecacampeão? Tanto faz. O americano Kelly Slater fez o Brasil consultar o dicionário na hora em que comemorou o 11º título do Circuito Mundial. Uma conquista que virou piada quando a Associação dos Surfistas Profissionais (ASP) viu que tinha errado as contas. E quatro dias depois, o “hendeca” ou “undeca” enfim foi confirmado. Uma festa onde o chope ficou meio aguado. Cortesia de Gabriel Medina, surfista brasileiro que, aos 17 anos, estremeceu a elite com seus aéreos. O paulista entrou no páreo apenas no meio do ano. Venceu duas de cinco etapas que disputou e ganhou um apelido. Se a American Airlines decretou falência, o Brasil inaugurou, no surfe, a “Medina Airlines”.

O PERSONAGEM

Kelly Slater. O americano de 39 anos abriu o ano com uma vitória em Snapper Rocks, caiu nas quartas diante de Adriano de Souza, o Mineirinho, em Bells Beach, e, no Rio de Janeiro, se despediu na terceira fase. Eliminado, ficou surfando no outside, sozinho, e recebeu uma multa de US$ 5 mil da ASP. Fora da água, se viu em uma saia justa entre Vasco e Flamengo.

Na etapa seguinte, de novo ele era o assunto principal, mesmo ausente: abriu mão de ir para Jeffreys Bay. Motivo? Uma ondulação perfeita nas Ilhas Fiji.

Revigorado após as "férias", foi para o Taiti e venceu na praia dos crânios quebrados. No desafio seguinte, levou o troco do australiano Owen Wright, único surfista que podia impedi-lo de erguer o caneco. Em Trestles, a terceira final seguida entre eles. E deu Slater de novo. Na França, caiu nas quartas e viu a vitória de Medina. Em Portugal, foi vice, diante de Mineirinho. Em San Francisco, bastava chegar às oitavas. E assim o fez, no dia em que a morte de Andy Irons completou 1 ano. Dois dias depois, a ASP admitiu que tinha errado o cálculo. Slater teve de vencer outra bateria - contra Medina e Miguel Pupo - e, aí sim, confirmou o caneco. O brasileiro de 17 anos o venceu mais uma vez, nas quartas, e levou a etapa.

No encerramento da temporada, uma derrota nas semifinais do Pipeline Masters, diante do aussie Joel Parkinson. Neste ano, Slater também recebeu muitas homenagens, uma delas em Huntington Beach, com a chave da cidade. No dia 11 de fevereiro completará 40 anos. E já disse que, quando se aposentar, pretende se dedicar ao golfe.

O DIA-CHAVE

No dia 9 de setembro de 2011, Nova York já vivia o clima de homenagens aos dez anos de 11 de Setembro. No surfe, Long Island escrevia um capítulo da história ao receber pela primeira vez uma etapa do Circuito Mundial. E, ao fim da disputa, a ASP promoveu um corte na elite. Com isso, o Brasil passou a ter sete representantes. Mineirinho, Jadson André, Raoni Monteiro, Alejo Muniz e Heitor Alves se mantiveram. E os meninos de ouro Gabriel Medina e Miguel Pupo passaram a integrar o grupo dos 32 melhores do mundo.

A REVELAÇÃO

Gabriel Medina. A brincadeira veio justamente do surfista mais velho do Circuito Mundial, Taylor Knox, de 40 anos. Eliminado nas semifinais da etapa de Hossegor pelo brasileiro de 17, o americano lamentou: “Estava indo bem, mas aí entrei na Medina Airlines”.

O paulista entrou na elite apenas na etapa de Trestles, depois do corte do meio do ano. Venceu em Hossegor, na França, e em San Francisco, nos Estados Unidos. Em Pipeline, no Havaí, enfrentou a desconfiança dos que achavam que ele não conseguiria se dar bem nos tubos perfeitos e traiçoeiros. Ledo engano. Medina foi até as quartas de final.

O MICO

Slater chegou a San Francisco precisando passar apenas três baterias. Foram dois dias de comemoração... e outros dois de piadas. Um internauta contestou as contas, e a ASP admitiu que tinha errado o cálculo. A confirmação do título veio com uma vitória sobre Medina e Miguel Pupo.

- Talvez agora possamos parar com as piadas. Foi engraçado. Não tenho nenhum sentimento ruim pela ASP ou ninguém. Erros acontecem - disse Slater.

O DEPOIMENTO

Bobby Martinez soltou os cachorros na ASP após uma bateria em Long Island, durante uma entrevista ao vivo. O americano não concordava com o ranking unificado, que junta surfistas da elite com os do WQS, a divisão de acesso. Bobby foi desclassificado depois das declarações.

"Em primeiro lugar, eu gostaria de dizer que não quero fazer parte desse “quero ser tênis” Circuito Mundial. Todos esses surfistas profissionais querem ser jogadores de tênis. Como pode alguém que não compete contra pessoas do nosso calibre estar à frente de 100 de nós na classificação um mundo? Eles nunca estiveram aqui. Não me venham com essa. Isso é besteira. É por isso que eu não vou mais a esses campeonatos estúpidos. Este é o meu último. Eu não gosto de tênis. ASP? Eles estão acabando com o surfe. O surfe está indo para o lixo graças a essas pessoas".

LEMBRA DISSO?

Danilo Couto foi o vencedor da 12ª edição do XXL, o "Oscar” das ondas grandes. O surfista baiano, morador da ilha de Oahu, no Havaí, levou o principal prêmio, na categoria Onda do Ano, pelo paredão de 20m que surfou em Jaws, Maui (Havaí), em fevereiro. Além da honraria, o brasileiro embolsou um cheque no valor de 50 mil dólares. A cerimônia teve homenagem a Sion Milosky, big rider que morreu em março, quando surfava em Mavericks.

A DECEPÇÃO

Mick Fanning. Bicampeão mundial (2007 e 2009), o australiano boa praça teve uma temporada muito aquém do que era esperado. Chegou à final em Bells Beach, na Austrália, e em Jeffreys Bay, na África do Sul. Parou nas quartas em Trestles, na Califórnia. E foi só. Acumulou 13ª colocações e fechou o ano em 11º. A maior decepção para ele, no entanto, veio no fim de novembro, quando anunciou que teria de abrir mão do Pipeline Masters por causa de uma lesão no pescoço.

APOSTA 2012

Príncipe do Havaí. John John Florence praticamente nasceu com uma prancha debaixo dos pés. Neste ano, o menino de 19 anos, que mora quase em frente a Pipeline, garantiu passagem para a elite do surfe. Na etapa de encerramento da temporada, no quintal de sua casa, foi um dos protagonistas. Parou nas quartas, diante de Slater, mas garantiu a Tríplice Coroa Havaiana. O caneco da série não ficava com um surfista local desde 2006, com Andy Irons.

- Ele vai dominar Pipe nos próximos 20 anos. Só quis aproveitar um pouco - disse Slater.

A IMAGEM

Havaiano Garrett McNamara surfa onda de 27 metros, a maior já registrada no surfe. A façanha foi no pico de Nazaré, em Portugal.