#SwelllHistorico: Arpoador clássico, ondas perfeitas, crowd e localismo
Vamos examinar uma ondulação que quebrou Arpoador e foi surfada pelo Stephan Figueiredo (man at water) em junho de 2019. Se liga no vídeo com as ondas e na análise das condições!
20/Mai/2021 - Equipe Surfguru - Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - BrasilNosso embaixador Stephan Figueiredo foi se aventurar em um dos crowds mais intensos do Rio de Janeiro em um dos picos mais clássicos e no coração da cidade: o Arpoador. Localizado no canto esquerdo da Praia de Ipanema, o pico é consierado um dos berços do surf na cidade e já sediu inúmeros eventos internacionais, como o Waimea 5000 nos anos 70 e 80 e a etapa do WT como pico alternativo na cidade do Rio. A onda que quebra para a esquerda em uma bancada de areia tem seus dias de gala, onde é comparável a alguns point breaks internacionais.
Por toda essa história, por estar no meio da Zona Sul carioca e ser um dos cartões postais da cidade, o surf hoje é bem diferente do que já foi. Muitas escolinhas, iniciantes, locais de inúmeras gerações e pessoas que querem surfar essa famosa onda fazem parte da mistura de gente na água. Por isso, como disse o Stephan no vídeo, é preciso ter uma outra mentalidade se você quer cair lá: paciência para esperar a sua vez, paciência com quem está aprendendo, aproveitar as outras coisas que o pico oferece (vista, amigos, histórias, ...)
Stephan entrou na água com uma biquilha 5'4" e conseguiu pegar boas ondas com a maré descendo.
“Arpoador não é mole não. Um dos piores crowds do Brasil, se não for do mundo. É muita gente. Pegar onda aqui é difícil. Tem localismo, tem muita gente aprendendo a surfar no meio da onda, tem muita gente que surfa bem também. Então é muito disputado aqui. Mas é divertido, muito divertido. Eu gosto muito dessa onda.”
A ondulação chegou ao litoral fluminense entre os dias 05/06 e 08/06 e foi formada relativamente perto da costa do estado. Diferente das ondulações comuns de inverno que se formam na costa da Patagônia Argentina e vem subindo o litoral do continente até chegar ao Brasil, essa tempestade se formou mais afastada do continente, fazendo a pista de vento soprar vinda de sul no estado do Rio de Janeiro, como podemos ver nas imagens abaixo:
Entre os dias 03/06 e 04/06 de 2019 a pista de vento começa a se formar mais afastado do continente. Geralmente esse fenômeno do ciclone extratropical ocorre mais ao sul, na costa da Argentina e vem subindo o continente até se deslocar para o oceano.
Como a ondulação se formou mais à leste do que o normal, a ondulação que chegou ao Rio não veio tanto de sudoeste (direção comum quando o mar sobe com uma frente fria de inverno). Nos mapas abaixo é possível perceber como a tempestade geradora das ondas surge afastada do continente e se afasta enquanto ainda possui boa intensidade:
Entre os dias 03/06 e 04/06 é possível perceber que a ondulação ganha bastante intensidade, representada pelo aparecimento da cor amarela no mapa
Já nos dias 05/06 e 06/06, podemos perceber como além de se intensificar, o núcleo da tempestade se afasta do continente. Principalmente pelo mapa do dia 06/06, com uma mancha vermelha grande, mas que cresceu apenas para o outro lado do continente americano.
Pelo mapa de período e pelo mapa espectral podemos ver o que acontece enquanto essa ondulação chega à costa do estado. Na quinta-feira (05/06), a previsão oceânica indicava ondas de 2m com 9 segundos de período vindos de sul (164 graus). Já na sexta-feira (06/06), a ondulação se deslocou mais para sudeste, com 1,9m e 10 segundos de período e no sábado (07/06) o pulso chegava ainda mais de sudeste com 1,8m e os mesmos 10 segundos.
Mapa de período e espectral para o Rio de Janeiro dia 05/06/2019
Mapa de período e espectral para o Rio de Janeiro dia 06/06/2019
Mapa de período e espectral para o Rio de Janeiro dia 07/06/2019
Esses dados estão de acordo com os dados da formação da tempestade geradora da pista de vento que formou essa ondulação. Conforme o ciclone se deslocava para o oceano, a direção da pista de vento foi saindo de sul e indo para sudeste. Se liga como estavam as condições das ondas e ventos através dos gráficos desse dia para a cidade do Rio de Janeiro:
Gráfico de altura das ondas no Rio de Janeiro, junho/2019
Gráfico de vento no Rio de Janeiro, junho/2019
É possível perceber que o vento sudoeste sopra por apenas um dia e já dá lugar ao terral de norte-nordeste matinal e o leste à tarde. Enquanto isso a ondulação também fica apenas um dia chegando de sudoeste antes de virar para sul-sudeste na metade do dia 05/06. E essa é a melhor ondulação para surfar o Arpoador, pico clássico da Zona Sul carioca. Localizado no canto esquerdo da Praia de Ipanema, a Pedra do Arpoador oferece uma proteção ao vento leste e ainda segura a areia do meio da praia que chegam com as ondulações de sudoeste.
Com isso, acaba que se forma um banco de areia extenso onde quebra uma esquerda longa que pode ser dividida em duas partes: uma primeira mais cheia, que vai desde o drop (atrás da pedra) até o inside e a segunda, quando a onda chega na bancada, fica mais buraco e rápida, proporcionando boas paredes e junções.
Pelo mapa espectral podemos observar como a geografica faz uma barreira: ao mesmo tempo que protege um pouco do vento leste, segura a areia das ondulações de sudoeste, formando uma bela vala para as ondulações de sudeste.
Outro aspecto interessante do pico é o fato de ter algumas ilhas na frente, então as ondulações de sul/ sudeste ficam um pouco barradas e perdem tamanho em relação à outros picos da cidade. Isso é bom para quando não tem um fundo que segure uma ondulação maior ou para a galera que prefere não se jogar em bombas de mais de 1,5m. Se liga no gráfico de altura das ondas e de vento e depois compare com os gráficos da cidade:
Gráfico de altura das ondas Arpoador-RJ em junho/ 2019
Gráfico de vento Arpoador-RJ em junho/ 2019
Com essas condições, podemos entender porque Stephan (e todo aquele crowd) escolheu cair no Arpoador naquele dia. Tirando o drop atrás da pedra, é uma onda fácil de entrar e ler, extensa e no meio da cidade. Além disso, há uma concetração grande de escolinhas e iniciantes para bagunçar ainda mais a sopa de pessoas na água. É muito importante ter consciência de que em dias assim terão "problemas", como gente na frente, raberadas e possíveis acidentes. É necessário ter paciência com os novatos e até incentivar a galera. Se o crowd é realmente insuportável, não adianta lutar contra, procure outro pico e faça sua cabeça.
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