Bodyboard nas águas selvagens da Pororoca
Um fenômeno natural assustador, que possui uma força incrível formada pelo encontro do mar com o rio, formando ondas que chegam à velocidade de 30 quilômetros por hora, e até mais de oito pés
09/Jul/2013 - Alexandra Ereiro - Amapá - Amapá - BrasilUm fenômeno decorrente de um embate, um confronto, um duelo entre as águas do rio e do mar, jamais enfrentado por mulheres, devido o seu poder de devastação. Esta é a descrição mais precisa da Pororoca, contada por uma bodyboarder muito experiente em enfrentá-la, Alexandra Ereiro, natural de São Luís do Maranhão mas que com seis meses foi morar no Pará e é Paraense da gema. 13 anos de surf, atleta paraense e divulgadora da modalidade nas pororocas brasileiras, somam 14 expedições ao duelo das águas, onde em cada trip são no mínimo seis dias e em todos os dias é drop na certa. Ela está com um projeto de ficar no free surf, viajando e fazendo filmagens em pororocas e praias pouco exploradas pelos surfistas.
A atleta compartilhou conosco um pouco das suas vivências durante as explorações da pororoca. “Primeira vez que surfei a pororoca foi em 2005, na pororoca de São Domingos do Capim, uma pororoca mais tranquila que fica próximo à cidade de Belém, onde moro. Não tinha noção de como seria a força, os perigos, o cenário, e a minha primeira experiência não foi nada boa. Tive algumas dificuldades no dia, uma delas foi ficar no meio do rio, podendo ser surpreendida por jacarés, cobras. O rio era estreito e com muitos troncos e bambus próximos a mim, só estar ali já era uma adrenalina. Senti um medo enorme quando a vi, foi assustador ver aquela grande espuma de onda da cor de chocolate, um barulho que nunca tinha escutado no mar. Quando remei para surfar não consegui sair do lugar, tinha uma força vindo de baixo, sugando toda a água que estava na minha frente e aquela espuma se aproximando era cada vez maior. Nesse momento minha adrenalina triplicou, foi a mil, ao ver aquele cenário assustador, que ao mesmo tempo me fazia sentir medo e vontade de surfar. Cada segundo que passava eu ia me aproximando da margem onde havia árvores, troncos, galhos e eu ali, sem saber o que poderia passar. Quando tive contato com a espuma senti logo de primeira que seria difícil manobrar, soltar um 360°. Queria primeiro sentir a onda, como sou BODYBOARD, meu corpo está sempre em contato com a espuma e a parede, ao mesmo tempo a onda te joga e te puxa para dentro da espuma, tipo ping pong, cansa muito. Tem partes da bancada que ela quebra tubular e dá para arriscar manobras fortes como el rollo, ARS”.
Em seguida ela continua contando sua experiência em outra pororoca, dessa vez no Maranhão. “No ano seguinte fui surfar na pororoca do rio Arari, que fica no Maranhão, juntamente com o Presidente da ABRASPO, Noélio Sobrinho, realizador do Campeonato de Surf e Bodyboard na pororoca. Já sabia que surfar essa pororoca não iria ser nada igual à de São Domingos do Capim, no Pará, e queria sentir a força de cada uma. Dessa vez fui com quatro amigos, mapeamos o local para o evento de bodyboard. Pegamos a voadeira rumo ao encontro dela, sentia medo de encalhar e nesse dia a lancha perdeu a velocidade, não sei o que ouvi só sei que eu tive que sair da lancha junto com outro surfista, que demos carona. Ficamos à deriva, no meio do rio, enquanto os outros foram até o paredão da morte, que é uma bancada perigosa a qual vem aterrorizando tudo. E eu ali, junto com o Macarrão, um surfista local de São Luís, no meio da selva no banco de areia com água até a canela, o rio estava completamente seco. Senti medo das companhias que poderiam se apresentar como as cobras, jacarés, candirus, piranhas e até tubarões.”
E ela prossegue verbalizando a emoção de estar no duelo das águas. “Já estava em meus ouvidos o barulho assustador. Algo que me chamou atenção foram os pássaros voando, os búfalos rugindo, fugindo do fenômeno, como o tsunami, e eu, assustada por não surfar ao lado dos meus amigos. Olhei para o horizonte e vi aquela espuma de quase um metro em extensão do rio e paredes se formando, ela se aproximando trazendo muita chuva, e foi ali que senti a verdadeira força da POROROCA. Cada pororoca é uma adrenalina, nada é igual. Não sabemos como ela pode aparecer para nós, pode vim grande, pequena, nunca sabemos o que podemos esperar.”
Agora ela conta a sua mais atual vivência nas pororocas brasileiras. “Estive recentemente na Pororoca do Araguari, levei três atletas participar do 3° Campeonato Brasileiro Feminino de Bodyboard. No primeiro dia fomos mapear o local, levar cada uma para sentir a onda um dia antes do campeonato. Tivemos uma grande surpresa, nosso Jet encalhou em um banco de areia gigante no meio do rio, tivemos que sair da banana, junto conosco estava o piloto, o apoio, o presidente da ABRASPO e as atletas. A pororoca já estava vindo, todos nós vendo a espuma no horizonte e o barulho se aproximando cada vez mais. Fiquei apreensiva só de pensar como seria a reação das atletas, não queria passar insegurança, comecei a pedir para Deus e a mãe natureza que nos tirássemos dali, então fui me tranquilizando, vi a feição das meninas assustadas, começamos a empurrar com muita força e faltando uns 5 minutos pra onda pegar nosso jet, conseguimos sair. Temos que estar preparados, quando passarmos por algum perrengue, além de inúmeras outras situações notadamente preocupantes e desagradáveis.”
A atleta finalizou seu relato: “A experiência de surfar a pororoca é um momento único, adrenalizante, alucinante, mas nada disso é feito sem um planejamento prévio, pois como falei anteriormente, nunca poderemos mensurar, nem tão pouco prever a força da Natureza. Além do que não é qualquer um que consegue surfar essa onda, cada trip é diferente e nunca é igual à primeira. Vivenciar e observar valores verdadeiros dentro da selva, a simplicidade, a exuberância da natureza e a hospitalidade do povo ribeirinho, são incríveis. Auêra Auara”; conclui Alexandra.