#surf 

Com a palavra: Tony Vaz

Tony Vaz, tenho 40 anos, sou paraibano, comecei a surfar em 1987 no ano em que Fabinho Gouveia tornou-se Campeão Brasileiro Amador e me profissionalizei em 1995. Meus principais títulos como Profissional foram Bi-Campeão Cearense, Campeão Paraibano, Vice-

17/Dez/2013 - Redação Surfguru - João Pessoa - Paraíba - Brasil

Independente de estar em competição ou não, o que mais gostava era fazer as manobras modernas como aéreos e lay-backs. Ao longo da carreira, foram publicadas várias fotos nas revistas especializadas. Também saíram muitos elogios dos editores pelas minhas performances com estas manobras de vanguarda para a época como Hélio Coutinho editor do extinto The Surf Press, Pedro Falcão editor da Revista Fluir, Reinaldo Dragão editor da Revista Hardcore e Emanuel Matos que comandava o Esporte Espetacular neste período.

Nesta época, as regras de competição eram bem diferentes das atuais. Somavam-se as 04 melhores ondas na bateria e valia a quantidade de manobras em detrimento da qualidade. Em conseqüência disso, a grande maioria dos competidores fazia o surf mais burocrático.

No início de 1997, estava com patrocínio de uma empresa cearense e decidi me mudar da Paraíba para o Ceará e abandonei o meu curso Superior de Engenharia Mecânica em que já tinha cursado mais da metade da sua grade curricular. Fui com minha esposa Ilka e meu filho Caio na intenção de melhorar meus treinamentos por causa da melhor qualidade de ondas daquele estado.

Treinamento diário com o parceiro Claudemir Lima na Praia do Futuro e viagens nacionais e internacionais para competir viraram a minha rotina por 03 anos até que no final de 1999, quando iria viajar para as etapas do WQS (Segunda Divisão do Mundial de Surf) que rolariam por todo o Brasil, o meu patrocinador da época me avisou que não renovaria mais o contrato, pois a empresa não estava suportando a crise que assolava o país e que deveria voltar para a Paraíba ao final dos 2 meses de eventos que estaria indo disputar.

Na semana de viajar para esta sequência de eventos, saiu na mídia que iria ter concurso para o Banco do Brasil e percebi que a prova seria no final de semana do WQS de Porto de Galinhas. Inscrevi-me para o concurso, acrescentei duas apostilas ao meio das pranchas e parti para as competições. Entre uma bateria e outra ia dando uma estudada. Como no final de semana deste concurso já estava eliminado no sábado, então voltei para casa, fiz a prova, conseguindo a aprovação e a tão sonhada estabilidade financeira.

Em 2000 voltei a morar na Paraíba e como não existiam eventos profissionais no Nordeste nesta época de crise, decidi então encerrar minha carreira precocemente, mesmo estando classificado para o Super Surf.

Ao final deste ano prestei novo vestibular na UFPB e passei novamente, só que desta vez para o curso que sempre quis fazer que era Computação. Minha vida mudou por completo. De surfista profissional que rodava o Brasil inteiro e surfava praticamente todo dia, virei bancário e universitário. Em 2001 coloquei no ar o site Surfcore com o surfista e amigo de colégio Sérgio Diniz.

Em 2002 organizei o Circuito Paraibano de Surf Universitário e na etapa inicial houve um erro de somatório na bateria final da principal categoria do evento, resultando na divulgação errada do Campeão Open.

Como já estava no segundo ano de computação e sabia da importância do sistema de notas para um evento de surf, dei início ao desenvolvimento do SuRFCoRe System em agosto de 2002 e a princípio todos os cálculos eram feitos em planilhas do Excel, com intuito único de agilizar o desenrolar desses meus eventos.

Em 2003 lancei a versão para computadores em rede e fechei o primeiro Circuito que foi o Circuito Detonação & Natureza em Natal (RN). Nesta época alugava os computadores a Ivo Anselmo que tinha uma Lan House e após dois eventos ficou evidenciado que era muito trabalhoso montar uma rede com 5 computadores dentro de um palanque de surf para estar funcionando tudo às 6:30 da manhã.

O SuRFCoRe System teve que realmente se profissionalizar e em setembro de 2003 mudei para a versão de microterminais que funcionavam em rede via porta serial. O sistema migrou para o Visual Basic para poder interagir com os equipamentos e colocar todas as funcionalidades para gerenciamento de um campeonato que não são possíveis simplesmente com planilhas do Excel.

Em 2007 rolou o I Prêmio Mormaii Monografia de Surf, cujo objetivo foi coletar informações científicas de relevância para o surf e distribuir esse conhecimento para a comunidade a fim de acelerar o desenvolvimento da modalidade no país. Após a análise criteriosa de 28 trabalhos entre artigos, monografias e dissertações, a Banca Examinadora chegou ao resultado final e a minha monografia que apresentei na conclusão do meu curso que contém 107 páginas sobre o desenvolvimento do Surfcore System ficou em terceiro lugar.

Em 2011 a plataforma do sistema foi migrada para ambiente móvel e os juízes digitavam as notas dos competidores em iPods e com isso o SuRFCoRe System  tornou-se o primeiro sistema de computação para gerenciamento de campeonatos de surf do Brasil a entrar no mundo sem fio.

Em 2013 mudei mais uma vez de equipamentos substituindo os iPods por tablets e coloquei em prática o novo sistema de notas integrado ao sistema de replay, colocando o SuRFCoRe em outro nível. Agora o sistema funciona como uma papeleta digital e o juiz pode ver o replay das de qualquer onda da bateria que está na água. Na opinião dos juízes este novo sistema está muito a frente dos concorrentes que atuam nesta área.

Além da vantagem da mobilidade, os equipamentos têm autonomia de energia elétrica e por terem sistema operacional próprio, são livres de travamento e independem do notebook do administrador para operarem.

Dos principais eventos deste ano que trabalhamos, destaco a transmissão do Prêmio Greenish Brasil que rolou pela primeira vez em HD, Mundial de Body Boarding de Copacabana, WQS da Bahia, 06 etapas do Brasileiro Profissional, Brasileiro de Body Boarding, Brasileiro de Longboard, Brasileiro Master, Brasileiro Amador, Nordestino Profissional, além de vários eventos estaduais e locais que aconteceram do Ceará ao Rio de Janeiro.

Atualmente prestamos o serviço de implantação de sistema de tabulação de notas que roda em tablets, sitema de replay com até 3 câmeras simultâneas que pode passar as imagens das ondas  para o quadro técnico rever as apresentações dos competidores em uma TV ou nos próprios tablets, além de transmissão ao vivo em HD.

A procura pelos nossos serviços depende basicamente do tamanho do evento. A grande maioria contrata apenas o sistema de notas ou no máximo transmissão ao vivo com apenas 1 câmera e como a verba da maioria dos eventos é curta, não é instalado link dedicado de internet no palanque e transmitimos via 3G.  Apenas nos grandes eventos é que realmente os organizadores contratam todos os serviços que oferecemos e colocam link de internet próprio para podermos fazer a transmissão para a web em HD.

Infelizmente por causa dos eventos da Copa do Mundo e Olimpíadas, os gestores públicos estão destinando a maior parte das verbas governamentais para investimentos em esportes destas áreas. Como o surf não é esporte olímpico, a maior parte dos grandes eventos de surf também perdeu seus patrocinadores privados que migraram seus orçamentos de marketing esportivo e 2013 foi um ano difícil, devendo piorar ainda mais para o ano que vem. Pra completar, a maioria das empresas de surf wear não investe mais na realização de grandes competições.

A minha época de competidor foi muito boa, pois conheci 06 países, o litoral brasileiro de Norte a Sul, fui a Fernando de Noronha várias vezes, além disso, me fez conhecer os organizadores dos eventos que na grande maioria dos estados ainda continuam na ativa. Isso facilitou o acesso do meu sistema de computação aos seus campeonatos.

Para 2014, penso em expandir o sistema para outros estados e quem sabe para outros países, mas não é tão fácil quanto parece. Não basta apenas ter um melhor produto aliado a um preço mais atrativo. Em muitas dessas áreas pretendidas existe politicagem e concorrentes que já atuam desde o tempo em que eu estava iniciando nas competições.

As dificuldades encontradas ao longo do tempo foram muitas, tanto na parte de desenvolvimento dos softwares, quanto na perda de equipamentos por utilizá-los na maresia excessiva e constantemente encontro grande oscilação de energia nos palanques dos eventos. Mas no final o que seria um sistema para gerenciar unicamente o Circuito Paraibano Universitário, aperfeiçoou-se e abriu franquias nos estados do Ceará, Alagoas, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro chegando trabalhar em 05 eventos simultâneos por final de semana e com média de 100 eventos realizados nos 02 últimos anos.

O que mais me alegra nos eventos é ver na contagem regressiva um competidor saber que precisa de tal nota, surfar a onda bem e ao sair da água o locutor anunciar que ele conseguiu virar a bateria. É uma festa do competidor, dos seus amigos, familiares e torcedores. Com o sistema, além de diminuir a reclamação dos atletas para o quadro técnico até os leigos que estão na praia começam a entender o que está acontecendo na competição.

Agradeço a Ilka e a meus filhos Caio (20) e Victor (11) por estarem sempre ao meu lado, mesmo tendo que às vezes ter que mudar de cidade para alcançar meus objetivos seja na vida de surfista profissional, Gerente do Banco do Brasil ou desenvolvedor do Surfcore. Agradeço também aos meus patrocinadores que tive na minha carreira de surfista por me proporcionar conhecer tantos lugares que passei, aos organizadores de eventos que são parceiros por todos esses estados onde atuamos e finalmente a minha equipe que confio muito neles. Sergio Diniz, Flávio Aquino, Danilo Medeiros, Arthur Villar, Assis Lemos, Dudu Andrade, Amon Rá, Diego HighLander, Caio Carvalho, Pedro Falcão e todos aqueles que de alguma maneira já prestaram serviços para que os eventos acontecessem. Agradecer também aos meus professores da Universidade e a Pamploni com quem aprendi bastante sobre tecnologia sem fio.

Finalizo dando um recado para a nova geração do surf que nunca abandone seus estudos, pois mesmo na época que era surfista profissional ainda dava continuidade na minha Universidade de Engenharia e esse embasamento que tive foi primordial para que eu conseguisse lograr êxito tão rápido na decisão de abandonar o surf competição e ir trabalhar no mundo real. Lembro que certa vez li uma frase do lendário havaiano Gerry Lopez falou que é a pura verdade: “Não conheço um surfista com mais de 40 anos que tenha largado os estudos na juventude e não tenha se arrependido”

Aproveito o espaço cedido e parabenizo o SurfGuru pelo pioneirismo e credibilidade na sua principal função que é a previsão de ondas e ventos atuando desde a época do fax e posteriormente migrando para o advento da internet. É um grande serviço para a nossa comunidade e o principal, acessível gratuitamente.