Como Medina lida com a pressão na luta pelo bi
"Nada fora desse túnel pode me atrapalhar", diz o surfista, concentrado para o Pipeline Masters, última etapa do Mundial. Medina enfrenta havaiano em bateria de vida ou morte pela repescagem.
14/Dez/2017 - Carol Fontes e Lívia Laranjeira - Hawaii - Estados UnidosBlindagem, túnel e videogame: como Medina lida com a pressão na luta pelo bi.
Gabriel Medina entrou no túnel com destino a Pipeline. É assim que o padrasto do surfista, Charles Saldanha, define o caminho de casa para a praia, sem maiores distrações. Concentrado na busca pelo bicampeonato mundial, o brasileiro está blindado. Tem evitado encontrar os amigos e mesmo com a família a convivência é restrita. Apenas Charlão está com ele, a cerca de 50m de distância do palanque do campeonato, enquanto a mãe e os irmãos se hospedaram em outra casa.
- Eu gosto de estar com os meus amigos, gosto de estar com a minha família. Mas eu acho que, nesses momentos, eu prefiro estar sozinho, porque eu consigo me concentrar melhor.Quero pensar só isso, como se fosse um túnel. Meu pai tem isso, ele fala que a gente tá num túnel ali. É dali pra água e da água pra casa. Nada fora desse túnel pode me atrapalhar, independentemente de qualquer coisa. Eu acho que é assim que você se mantém focado. Você tem uma missão e você quer realizar. Então, tem que colocar tudo nesse foco, desse túnel, da casa pro mar e do mar pra casa - disse Medina.
O paulista de Maresias voltará ao mar para disputar a repescagem contra o havaiano Dusty Payne na última etapa do Circuito Mundial. A próxima chamada será nesta quinta-feira, às 15h30 (de Brasília). O SporTV.comtransmite tudo ao vivo.
Na residência de três andares na costa norte da ilha de Oahu, ele está hospedado em uma suíte com sala, varanda e vista para o mar de Pipeline. Mick Fanning, também patrocinado pela marca, fica no mesmo andar, em um quarto com uma estrutura igual.
O segundo andar tem cozinha e espaço de convivência, com sofás e videogame. O jogo do momento é o Mario Kart, de automobilismo. Outros membros da equipe, Matt Wilkinson, Conner Coffin e Owen Wright ficam no térreo, assim como os “groms”, jovens promessas.
O filho de Owen, Vali, de um ano, também está na casa. Gabriel gosta de brincar com o menino e aos poucos ajuda a aliviar a pressão. Ao lado dos irmãos, ele jogou bola na beira da praia, e ainda surfou com a caçula Sophia.
- Essa etapa é uma etapa tensa quando você tá disputando o título mundial. Ali é uma onda que tudo pode acontecer. É uma onda perfeita, que abre para os dois lados. É continuar focado. Eu gosto de ficar na minha, escutando a minha música, me manter nessa pegada que eu tenho tido, dessas duas últimas etapas. Levar o que eu tive de bom, que é estar com o meu pai, tendo aquela rotina de treinar de manhãzinha, me concentrar e ficar na minha - explicou Gabriel.
A fórmula que começou a ser usada há dois anos deu certo, mas era ainda mais radical. No ano em que foi campeão mundial pela primeira vez, em 2014, havia hora de visita até para a família. A mãe e os irmãos iam à casa onde ele estava por uma ou duas horas. Às vezes, almoçavam juntos, e depois o surfista ficava só com o padrasto. Surfava e fazia a rotina de treino, em um ambiente isolado.
Na época, o padrasto brincou que o filho era como um prisioneiro e ele o carcereiro. Tudo para manter o foco. Um campeonato de surfe pode durar de três a 12 dias, e o planejamento para "blindar" o atleta será mantido até o fim. Portanto, nada de baladas, menos mídias e poucos amigos por perto.
Em busca do bicampeonato em 2017, o vice-líder do ranking mundial está focado na competição. Um de seus melhores amigos no Tour, Miguel Pupo contou que não vê Medina há duas semanas, sem contar com o encontro pela primeira fase do Pipe Masters.
- Eu joguei videogame com ele há umas duas semanas e ele me parecia muito tranquilo. Ele sempre é tranquilo, ele é um cara muito frio na competição. Ele leva um dia de cada vez, e quando toca a buzina, ele muda a personalidade e vira o Gabriel competidor. Então, ele sempre está tranquilo. Eu sei que ele tá bem focado, treinou bastante, tá isolado na casa, porque ele tá bem concentrado no que ele vai fazer. Não falei mais com ele desde então. Não quero atrapalhar. Acho que nesses momentos, deixa ele fazer o trabalho dele do jeito que ele quiser e, se Deus quiser, quando ele vencer, a gente pode comemorar juntos - afirmou Miguel.
- Durante 12 dias você tem que se esforçar e ficar blindado pra depois ter uma recompensa maior - acrescentou o paulista de Itanhaem, vizinho de Medina na praia de Maresias.
O atual campeão mundial e número um John John Florence é o principal rival de Medina na luta pelo título, mas o sul-africano Jordy Smith e o australiano Julian Wilson também têm chances.
Baterias da primeira fase no Havaí:
1: Jeremy Flores (FRA) 10.17, Jadson André (BRA) 6.33, Matt Wilkinson (AUS) 4.67
2: Josh Kerr (AUS) 12.17, Kanon Igarashi (EUA) 6.10, Owen Wright (AUS) 3.37
3: Conner Coffin (EUA) 10,50, Julian Wilson (AUS) 8,00 e Stuart Kennedy (AUS) 1,50
4: Jordy Smith (AFS) 16.57, Bede Durbidge (AUS) 11.43, Ethan Ewing (AUS) 3.00
5: Miguel Pupo (BRA) 14,83, Benji Brand (HAV) 12.64, Gabriel Medina (BRA) 12.43
6: John John Florence (HAV) 13,50, Dusty Payne (HAV) 6,83, Wiggolly Dantas (BRA) 5,63
7: Caio Ibelli (BRA) 12.83, Adriano de Souza (BRA) 11,27, Jack Freestone (AUS) 7,04
8: Kelly Slater (EUA) 12,47, Joan Duru (FRA) 11,90, Kolohe Andino (EUA) 7,60
9: Ezekiel Lau (HAV) 10,50, Filipe Toledo (BRA) 2,00, Michel Bourez (TAH) 2,00
10: Sebastian Zietz (HAV), Adrian Buchan (AUS) e Ian Gouveia (BRA)
11: Joel Parkinson (AUS), Connor O'Leary (AUS) e Leo Fioravanti (ITA)
12: Mick Fanning (AUS), Frederico Morais (POR) e Italo Ferreira (BRA)