Entrevista com Hilton Issa

Radicado em Lauro de Freitas, o baiano Hilton Issa dedicou 40 dos seus 48 anos ao surf, esporte que sempre o guiou pela vida. Começou pequeno, e foi fazendo seu nome nas competições dos anos 80 e mais tarde na sala de shape, onde desenvolve pranchas inovadoras com personalidade própria, trazendo tendências direto do Hawaii, Hiltinho, como é chamado pelos amigos deixa o seu recado aqui num bate papo com o Surfguru.

Fale um pouco dos resultados e um pouco do seu histórico. Já fiz muito para o surf em meu estado como atleta e também como shaper.

"Já fui campeão baiano por varias vezes. Foram 32 primeiros em competições pro. Do ranking fui umas 5 ou 6 vezes campeão. Tive bons resultados no Fico e na Copa Cce em Saquarema... já faz tempo e isso está no meu coração. Corri o Waimea 5000 no Arpoador com André Ptzalis, Zorrinho, Odalto."

E aí Hiltinho, tem pego boas ondas aí na Bahia?

"Sim todo dia me esforço para ir cedo surfar. São muitos picos sem ninguém por perto."

"Você tem que chamar mais os amigos (risos). Mas diga aí, e a temporada havaiana? Diz pra gente como foi esse inverno 2010/11 no hemisfério norte, definitivamente marcado pela remada em Jaws, e a experiência de ter surfado sozinho uma das ondas mais temidas do planeta.

"Quando entrei em Jaws foi pra acalmar um demônio dentro de mim e consegui!!! (risos) Hoje estou muito mais pleno com a minha família e a esposa, curto cada momento como se fosse únicos pois sei que nada volta. Foi um êxtase poder realizar este sonho de estar entre os melhores do mundo, poder ver o Shane Dorian entubar e em Jaws, e ainda culminar com a vitória do meu ídolo Danilo Couto nordestino sangue bom (foi merecido)"

Sem dúvida ..... E você tem alguma atividade física paralela ao surf pra se manter no rip? Como é seu treino dentro e fora d'agua?

"Sim procuro malhar enquanto estou no shape mesmo, me alongando, esticando ao máximo meus membros, com concentração e foco. Também procuro me colocar em situações adversas dentro e fora d’água procurando atingir o total auto controle de tudo a minha volta. Sinto as coisas no ar, enfim, a idéia é trabalhar também a parte psicológica para se conhecer interiormente e poder se expor seja onde for."

E o shape? Como é ser projetista e piloto de testes dos foguetes?

"Olha rei, é o maior sonho que um ser humano pode ter. Sinto-me como se voasse por conseguir expor meu conceito e crer que funciona efetivamente. Não tem como fingir, por isso testo todos meus lines primeiro e depois eu passo adiante para os meus clientes, atletas e amigos. É bom fazer isso, pois volta tudo pra mim. Trabalho com o que gosto e amo que faço. Faço meu melhor sempre à procura de superação. A rotina me dá tedio e por isso adoro desfrutar e testar novas criações da mente."

E qual o modelo preferido para os atletas que pretendem ter um quiver apto para todas as condições?

"Hoje desenvolvi alguns modelos e já tenho três que é fundamental pra não ficar desfalcado em nenhum swell pelo Brasil. Se é um profissional aí vai a receita de um quiver para varias condições: Ondas pequenas: 5'10 fish bico normal com medidas 19. 1/2 x 12 x 2.5/16 vl. Ondas médias: 6'3' esta é responsável por sua forca na água, sua base, seu power e como explorar bem um lip atacando ele de forma eficaz. Super simples, porém mágica no seu rail. Entenda-se: você é o cavalo de força. Não dou as medidas desta Kaleo R. Mod Roud tail. Ondas grandes para os padrões brasileiros: 7'0' Mod KM para tirar toda dúvida quanto a você surfar bem em ondas maiores ou não."

Fale um pouco pro pessoal sobre a vantagem de se trabalhar com o epoxi e sobre os projetos de adequação da fábrica aos padrões de qualidade.

"Olhe bem! Em todo o mundo, há mais de 25 anos já tem uma espécie de corrida a respeito de quem chega primeiro ao novo e inusitado quando o assunto é shape. É muito fácil você produzir muito mais e ganhar rápido sem ligar pra o quanto da natureza está destruindo a sua volta. Eu uso todo tipo de matéria prima: madeira, poliuretano e Keahana (epoxi como falam) que é um conceito de laminação que tem como base um material 90% ou mais reciclável, não emite gases nocivos contra o meio ambiente, no qual pode-se inclusive trabalhar sem máscaras na sala de laminação. Além disso você entrega uma prancha que não precisa mais de tempo para maturação: já sai compactada e pronto direto daqui do meu Ovni a 80°C (risos). Não mudará em nada o seu conceito básico, mesmo com muito mais tempo de uso como foi comprovado através de testes feitos por mim e atletas de peso como Danilo Couto, Yure Soledade, Juan Gomes, Pedrinho Pc e Keoni Issa. Estamos tendo muito bom resultados nos últimos 10 anos dos mais de 15 que trabalho com Keahana e afirmo que o material é revolucionário em termos da facilidade que existe para obter todo o resultado final (o kit pronto feito para que fabricantes encontrem um conforto único na manipulação dos componentes). É tão simples e tão bem elaborado que qualquer criança pode fazer sua prancha. Um sonho antigo meu que virou realidade com produto."

E materiais alternativos?

"Temos as pranchas de carbono com muito mais slingshot ou estilingada. Usei também material da Agave Hunters em madeira e me surpreendi muito pois em minhas buscas pelo mais hi-tech me deparei com uma prancha de madeira fish e foi uma das maiores experiências que vivi no surf de uns tempos pra cá e nem onda tinha! (risos)."

E o futuro da arte do shape?

"O futuro cabe à nova geração. Eu fiz e faço meu melhor. Acredito que o futuro está no domínio da força (power e control). Prancha fácil demais é ruim. Tem que ter uma rigidez ou você acaba ficando muito maroleiro e com um surf bobo com um monte de firulas.... na realidade surf é base lip e tubo com cut backs afiados .... as firulas sempre foram pra dar brilho no final da onda."

Tem algum destaque que possa seguir os passos profissionais de surfistas como Adriano Mineirinho, Jadson e Medina?

"Na Bahia tem muitos talentos com potencial: Rudá, Serpa, Bino, Mauricinho Fadul, Lalo Guidice, Rafael Guache, .Keoni Issa, Moises Mariano, Manolo Fernandez."

E no campo do big surf? "Temos aí Danilo Couto e Marcos Monteiro surpreendendo todos.

"Olhe, Danilo eu sempre soube ... estava com ele no início do tow-in. Estávamos na casa de Lapo em Pupukea e lembro bem quando ele falava que entrava na remada em Phantons em Hamerhad, enfim ia no braço onde a maioria ia de tow-in. Quanto ao Marcos Monteiro não posso falar pois não o conheço bem."

Manda um recado pra aqueles que tem um sonho de evoluir nesse esporte-estilo de vida.

"Olha é muito simples: sejam sábios, ouçam duas vezes mais, falem menos, escutem os mais velhos e lembrando a receita: creiam em seus sonhos sem temer os obstáculos! Amem a Natureza, respeitando-a! Intelecto forte com corpo e mente sã!"