Especialista afirma que instalar redes para o surf no Recife será fácil
09/Nov/2005 - Gabriel Gomes Jr. - Pernambuco - BrasilO Dr. Anthony Havens trabalha para a Universal Nets, que produz as maiores gaiolas flutuantes de criação de Atuns em alto-mar do mundo, com 160 metros de diâmetro.
Uma rede de proteção separa os valiosos peixes do oceano, infestado de tubarões famintos. Atuns de barbatana azul chegam a valer milhares de dólares cada peixe, e as redes são feitas de forma que os atuns não consigam sair, nem tampouco que possa haver a possibilidade deles ficarem enganchados e então morrerem na rede, como aconteceria numa rede de pesca comum.
Em 1994 aconteceu num intervalo de dez dias nas praias de Hong Kong três ataques de tubarão em que as vítimas morreram. Logo em seguida o governo encomendou à empresa do Sr. Havens redes de proteção semelhantes às redes utilizadas nas gaiolas de atuns.
Há dez anos as redes de isolamento foram instaladas em 17 praias de Hong Kong, totalizando 30 kilometros. Durante todo este tempo não foi registrado nenhum ataque nestas praias, porém neste mesmo tempo ocorreram ataques em algumas das outras praias aonde não existem redes.
Nestes mesmos dez anos nenhuma tartaruga, golfinho, peixe-boi ou tubarão foram encontrados enganchados na rede pelos mergulhadores que fazem a manutenção periódica. Apenas algumas barracudas conseguiram ficar enganchadas nas grossas malhas, quando tentam pegar algum peixe pequeno do outro lado da rede.
A rede comprovadamente não causa dano nenhum ao meio-ambiente, pelo contrário, até contribuem para a ploriferação da vida: pequenos peixes sempre são vistos rondando as redes, ali eles ficam protegidos dos grandes predadores, que não conseguem atravessar as malhas.
Quando as grandes barracudas, xaréus, pampos, se aproximam para se alimentar, os pequenos peixes simplesmente atravessam de um lado para o outro da rede, assim elas ficam protegidas do caçador. Desta forma a rede de isolamento contribui para aumentar o número de peixes da área, ao invés de extiguí-los.
As redes de Hong Kong são em média instaladas em profundidades de 12 metros ou mais. Tufões e grandes tempestades são registradas nesta época, criando ondas de até 10 metros de altura, as redes são feitas para resistir a estas grandes ondas.
Analisando nosso litoral do quarto de seu hotel na avenida beira-mar de Boa Viagem, uma das praias do Recife aonde foram registrados vários ataques, o Sr. Havens julgou que a instalação de redes de isolamento em nosso litoral não somente é totalmente possível, mas também será mais fácil do que em Hong Kong, já que os desafios em Recife são menores do que lá.
A rede de isolamento foi uma idéia do Instituto Praia Segura, uma ONG de Recife criada por surfistas que também são empresários do ramo do surf. Atualmente eles fazem parte do CEMIT, comissão criada pelo Governo do Estado para tentar encontrar uma solução para o problema dos ataques de tubarão.
A entrada da ONG Praia Segura no Cemit foi o maior impulso dado para que soluções fossem encontradas. Muitas idéias foram propostas por eles e aceitas pelo conselho, como a pesca preventiva de tubarões usando um petrecho de pesca mais simples, chamado de linha de espera.
Hoje em dia em torno de 20 linhas de espera são utilizadas a aproximadamente 400 metros das praias, e foram elas as responsáveis pela captura dos tubarões cabeças-chata que poderiam atacar seres humanos em Boa Viagem, Piedade e Paiva.
Outra conquista do Praia Segura foi o fechamento de um matadouro, que clandestinamente despejava sangue de boi no rio que desemboca nas praias aonde foram registrados os ataques.
Desde o ano passado mais nenhum ataque de tubarão foi registrado em Pernambuco. Devido às ações de prevenção, a pesca preventiva, a educação da população para que não tome banho em praias arriscadas, e o fechamento do matadouro.
As redes de isolamento propostas pelo Praia Segura já estão sendo confeccionadas em fase de testes, um protótipo de 60 metros de comprimento já foi feito, e mostrado para o Sr. Havens, que deu várias dicas importantes. Aliás ele se propôs a ajudar em tudo que for possível.
Redes como estas poderão ser financiadas pela iniciativa privada, como hotéis, empresas de surf, etc, e poderão estar prontas em pouco tempo, serão usadas para isolar uma área onde poderá ser praticado o surf urbano novamente, banido por um decreto do governador, que no passado mandou os salva-vidas confiscar as pranchas de quem teimava em surfar nestas águas.
Se isso ocorrer será a primeira iniciativa deste tipo no Brasil, e uma das poucas do mundo aonde redes que não matam animais são utilizadas para proteger contra ataques de tubarão.