Há 30 anos, Fábio Gouveia conquistava o mundo
Há 30 anos, Fábio Gouveia conquistava o mundo e era precursor do Brazilian Storm.
23/Fev/2018 - Expedito Madruga e Lucas Barros - João Pessoa - Paraíba - BrasilConsiderado até hoje um dos ícones do surfe brasileiro, paraibano lembra o título amador de 1988 em Porto Rico, fala da inspiração em Ton Curren e da emoção de ver o filho no Circuito Mundial.
Gabriel Medina, Adriano de Souza, Filipe Toledo... E Fábio Gouveia! O paraibano foi precursor do Brazilian Storm, numa época que o surfe era dominado predominantemente por gringos. E foi há exatos 30 anos, no dia 23 de fevereiro de 1988, que Fabinho começou a escrever o surfe brasileiro no rol dos melhores do mundo.
Como campeão brasileiro amador de 1987, ele foi convidado para participar do Campeonato Mundial em Porto Rico. Sequer era o brasileiro mais cotado, uma vez que as fichas numa boa participação estavam depositadas em Teco Padaratz, que disputava a categoria júnior. Fabinho foi convocado para ganhar experiência, uma vez que já era apontado como grande revelação do país.
- Eu fui campeão brasileiro amador e fui convidado a ir a Porto Rico por ter vencido esse brasileiro. Classificavam seis. E eu fui pra Porto Rico atrás de experiência. Era amador, o Circuito Profissional estava dando dinheiro e tinha em mente isso - lembrou o paraibano, hoje com 49 anos, e que mora em Santa Catarina.
- Pensava assim: "Vou pra Porto Rico ganhar experiência". Aí fui evoluindo no Mundial, e o título veio assim como um passe de mágica, uma coisa que era inesperada. (Fábio Gouveia)
Um a um, Fabinho foi vencendo os adversários em Porto Rico. Até chegar à grande final, contra Daren Magee (AUS), Rodrigo Resende (BRA) e Steve Pugh (EUA). O título fez nascer um mito, até hoje reverenciado pelos surfistas da ativa.
- O Fabinho foi uma referência para a gente. Eu assistia ele competindo e sempre foi uma inspiração para todos nós brasileiros. Ele sempre bateu de frente com os gringos e foi um dos pioneiros do surfe brasileiro, mostrando que a gente podia conseguir também. Certamente fez a diferença no surfe - reconheceu Gabriel Medina.
- É um cara que surfa muito, tem um grande estilo e representa a nossa bandeira. Sou um grande fã do Fabinho (Gabriel Medina)
De Bananeiras para o mundo
Fábio Gouveia nasceu em Bananeiras, no interior da Paraíba, a 129 quilômetros de João Pessoa. Depois, foi para Campina Grande. Tudo era um problema, pois o garoto precisava do mar. Para brilhar no surfe, o primeiro passo era morar numa cidade litorânea. A oportunidade veio aos 13 anos, quando já morava na capital paraibana.
- Apenas nasci em Bananeiras. Meu primeiro ano que vida foi em Campina Grande. E meus pais vieram morar em João Pessoa. Então desde que me entendo por gente, eu moro em João Pessoa. Comecei com 13 anos na época era uma idade normal, hoje em dia diria que é uma idade tardia pra se iniciar no surfe - lembra Fabinho.
Ainda disputando campeonatos na categoria master, o ex-campeão mundial lembra do início da carreira em praias nordestinas.
- Realmente comecei na Praia do Bessa (em João Pessoa). Hoje em dia as ondas não são tão boas. Mas na época era melhor. Fez minha alegria. E Baía Formosa (no Rio Grande do Norte) já foi o estágio de aprendizado, né? Precisava evoluir, sabia que existiam ondas de qualidade e a gente tinha referência de outros surfistas.
Fábio virou Fabuloso no cinema
A história do menino que saiu do interior da Paraíba para conquistar o mundo virou filme. Literalmente. Em 2004 foi lançado o documentário Fábio Fabuloso, de Ricardo Bocão, Pepê Cesar e Antonio Ricardo, e que ganhou as telas do cinema. Era o que faltava para Fabinho ser definitivamente reconhecido como pioneiro do surfe brasileiro. O título do filme ressalta as qualidades do surfista, que era comparado com o americano Ton Curren, outra lenda dos anos 80, tricampeão do Circuito Mundial e que havia sido campeão mundial amador em 1982 - o mesmo que Fabinho conquistaria em Porto Rico seis anos depois.
- Como eu agreguei essa linha clássica do Ton Curren de surfar, eu fiquei marcado por um estilo bonito em cima da prancha. Mas esse apelido surgiu quando eu viajava com o Teco (Padaratz). Os australianos botaram os apelidos na gente. O Teco surfava muito rápido e os caras o chamavam de Fly Flávio. Eu como tinha uma linha bonita virei o Fabulous Fabio - brinca.
Fabinho não esconde que Curren foi mesmo uma inspiração na sua vida.
- Eu me inspirei no Tom Curren sim. Foi maravilhoso, porque o cara foi tricampeão mundial e era um cara para me espelhar na época. A gente falava assim: ninguém vai ter três títulos mundiais. A evolução do esporte mostrou Kelly Slater com onze, né? (Fábio Gouveia)