Inaldo Vieira - Tahiti 2013
Chegando no Hospital de Taravao, conheci um dos funcionarios, o Jean, pai do surfista local Tuhiti, ganhador do evento VZ Trials Teahupoo poucos anos atrás
19/Jun/2013 - Inaldo Vieira - Polinésia FrancesaReconheceu a Camila pelas informações dadas por mim no preenchimento do formulário. A Caca fez fotos alucinantes do surfista Tuhiti e conheceu a família toda bem antes do acidente. O Jean muito prestativo, ajudou bastante e até se encarregou de pegar as roupas molhadas da Caca. Ele ligou para a mulher, Virginia, e pediu que fosse ao hospital pegar as roupas e as levasse para lavar e secar. Quando me despedi da Caca, ela me pediu para pegar uma onda linda pra ela. Falei que seria possível com a ajuda dela. Pedi que ela mentalizasse essa onda e enviasse quando estivesse no line up. Obrigado Caca… Ela foi linda.
Quando a Virginia chegou coloquei as roupas no carro e segui rumo a Teahupoo com ela. Foi uma carona bem abençoada porque levaria bastante tempo para chegar no pico de Ônibus. A mãe do Tuhiti é uma pessoa maravilhosa, de uma simplicidade e leveza incrível. Foi muito confortante ter ela conversando comigo durante todo o caminho. Obrigado de coração a essa família.
Chegando em Teahupoo, me encontrei com o Fergal Smith, Simon Thornton e o Robert, o amigo que estava comigo no barco e tinha ficado com a minha tow board. Todos muitos preocupados com a situação, quiseram saber se ela estava bem e como tinha sido. Falei o possível e fui direto a minha missão que era pegar uma daquelas ondas enormes.
Cheguei em casa, peguei a prancha e fui para o spot. Chegando no point me encontro com a maior galera local, muita vibe. Foi quando uma voz falou comigo lá de cima… Era o Tuhiti em cima de uma árvore. Ele estava querendo ter uma visão privilegiada. Ele me perguntou sobre o acidente e quando falei que foi com a Caca, a expressão dele mudou na hora, de alegre e sorridente como sempre, foi para uma cara de lamentação e tristeza. Muito chato o que aconteceu realmente.
Logo em seguida fui para a água. Comigo vieram uma legião de locais na maior vibe, todos remando em pranchas normais e alguns em tow boards como eu fui. Foi nesse momento que vi o Pedro Manga regressando de jet ski para o seu barco na Marina. Tentei acenar mas ele não viu e acabei chegando no pico sem muita esperança de pegar onda.
Depois de algum tempo, vi que o Adam estava de cabeça feita e o Vetea "Poto" David estava com ele no ski. Olhei para ele e imediatamente ele veio ate a mim. Foi muito magico aquele momento. Num olhar eu expressei o que queria e ele veio e me fez a proposta. "Inaldo, did you surf today? Do you wanna surf?" Instantaneamente respondi com a cabeça e abri um sorriso de canto a canto das orelhas e fiquei emocionado com o momento.
Fui para o Outside com o Poto e a sua mulher no ski. Ela faz o resgate com o Vetea segurando uma boia que já te projeta para o sled. Muito profissional a equipe. O line up estava com 8 jets e ficamos esperando a nossa vez. Foi quando o Poto tentou me passar o máximo de informação sobre a maneira que ele iria me puxar na onda. Foi um verdadeiro aprendizado aqueles minutos com um dos pioneiros do big surf em Teahupoo.
Quando a primeira onda veio e fomos para ela, o João Jabour e o seu filho Kiron, que já estavam esperando havia um bom tempo, foram na frente e fiz o sinal pro David não ir. Logo em seguida o Kiron, com uma felicidade estampada no rosto, voltou dizendo que havia surfado a maior e mais sinistra onda de sua vida em Teahupoo. Muita energia positiva. O que me deixou ainda mais confiante.
Quando a primeira onda veio, o Poto me sinalizou e fomos em busca dela. O importante foi que tudo que ele me passou antes estava acontecendo exatamente da maneira que ele havia dito, o que me deixou ainda mais vontade e concentrado pelo que viesse pela frente. A onda tinha no mínimo 12 pés e muito seca na bancada. Quando soltei a corda tive a sensação de estar muito deep, ou no bom português, bem fundo e atrasado. Segurei na base e acreditei ate o final. Saí cuspido no bafo. Foi alucinante. Muito difícil ficar descrevendo como foi a onda, então vamos pular essa parte. Foi tão boa que me deixou com uma vontade enorme de pegar outra. Fomos para o outside novamente.
Ficamos esperando novamente até a segunda ordem do comandante. Vários nomes do big surf pegando altas bombas. Momento em que fiquei atento a tudo que se passava ao meu redor. Absorvi tudo que pude para evoluir na minha experiência no esporte. Foi quando uma onda linda, bem de sul e com um oeste bem acentuado. O Poto olhou para mim rindo "Are u ready? This is going to be heavy!" e começou a partir pra onda. Olhei pro céu e pedi toda proteção para a MAMA MANA e fui com tudo e firme. Estou emocionado escrevendo isso só de lembrar como foi, muito especial. O Poto foi indo e quando chegou perto percebi que já estava na inércia da vaga, soltando a corda bem antes dele acelerar o ultimo momento. Quando ele olhou pra traz gritando "GO!" Eu já estava na base da onda calculando a trajetória da linha. Foi inexplicável, maior tubo da minha vida. Tinha no mínimo 15 pés e aconteceu a mesma coisa. Quando soltei a corda tive a mesma sensação da primeira onda, que estava atrasado. Segurei firme e percebi que a prancha foi ganhando a sessão. Fiquei muito deep e tive que segurar na base, sólido, para não perder a linha. Felizmente saí do tubo com uma baforada inesquecível. Minha maior onda em Teahupoo sem dúvidas. Estava anestesiado. Melhor sensação do mundo!
Gostaria de agradecer a todos que fizeram parte dessa aventura. A Rota do Mar por estar me patrocinando e apoiando nas minhas viagens. A cultura da polinésia que contagia e nos ensina bastante, principalmente respeitar ao meio ambiente e ao próximo.
Mauruuru roa = Muito obrigado na língua tahitiana.