Juliana Freitas Conta Como Foi a Temporada Hawaii-Tahiti
A bodyboarder profissional Juliana Freitas nos conta como foi a sua temporada havaiana e a sua viagem ao Tahiti. A atleta é a atual vice campeã brasileira e está entre as melhores atletas do mundo.
27/Jun/2014 - Juliana Freitas - Teahupoo - Tahiti - Polinésia FrancesaO ano de 2014 começou com o pé direito para mim, após encerrar o ano com o vice campeonato brasileiro, decidi seguir para o Havaí para treinar e competir a primeira etapa do mundial. Pude treinar bastante em Oahu e consegui ter uma temporada muito proveitosa, considero a minha melhor temporada em relação a imagens, pude treinar muito e consegui evoluir bastante, principalmente na onda de Pipeline. Após a temporada havaíana encerrar decidi seguir para o Tahiti para fazer imagens e treinar na famosa onda de Teahupoo e o que posso lhes contar é que este ano também fiz a minha melhor temporada no Tahiti. Estou muito focada e acredito que como atleta profissional sem foco não se vai a lugar nenhum. E não é facil manter o foco principalmente quando se trata do meu esporte, que é um esporte pequeno comparado ao surf.
Tenho algumas competições ao longo do ano e ainda procuro por novos patrocinadores para conseguir seguir com o tour mundial. Tive que optar entre continuar com o mundial ou o brasileiro por falta de patrocinadores. Como fui vice campeã brasileira ano passado, resolvi dar foco este ano para o tour mundial.
Em Agosto estarei indo para a segunda etapa do mundial em Antofagasta no Chile e tenho treinado muito, espero conseguir chegar ao topo do podium como sempre sonhei.
Graças a DEUS aos poucos os apoios estão aparecendo, mas ainda preciso de um patrocinador principal para conseguir seguir em frente. Não posso deixar de agradecer as empresas que acreditam no meu trabalho e estão me dando um suporte.
Foram 42 dias no paraíso, e como sempre o Tahiti me surpreendeu novamente. Assim que chegamos na ilha, eu já pude sentir aquele astral que eu tanto amo do Tahiti, a sensação que tive foi de que eu havia vindo ontem, o mesmo calor, a mesma energia e poucas coisas haviam mudado no meu paraíso.
Como nos anos anteriores em que tive a oportunidade de ir para Teahupoo, em 2014 não foi nada diferente. Cheguei com um grupo de amigos no aeroporto de Papeete e uma das primas da família Taupua, a mesma que eu sempre fico, já estava nos esperando no aeroporto. Fizemos um pequeno caminho até onde o meu pai Tahitiano e a minha mãe estavam nos esperando com um outro carro, pois desta vez eu não estava sozinha como nas outras vezes, desta vez três grandes amigos estavam junto em minha nova aventura. Foram uma hora e meia até a casa da minha família Tahitiana e assim que chegamos, lá estavam as minhas irmãs Tahitianas me esperando.
É engraçado como quando nós temos uma conexão muito forte com alguém, mesmo quando ficamos longe por um longo tempo, ao nos reencontrarmos, a sensação que tive foi de que havia visto as minhas irmãs há pouco tempo. Fomos recepcionados com grande alegria e emoção, foi um chora daqui e chora de lá….hehehehe! Afinal eu não encontrava a minha família Taupua haviam 7 anos, e como eu estava com saudades de todos!
Ao descer do carro, eu já ouvi o barulho da minha onda favorita no mundo todo, perguntei aos meus amigos se eles conseguiam ouvir o barulho dela, mas eles disseram que não. Eu sempre tive um ouvido muito afiado para o barulho das ondas, e para Teahupoo o meu ouvido nunca falhou, sei dizer o tamanho exatamente só de ouvir o barulho que ela faz. Sabia que não estava grande, mas sabia que ela estava ali quebrando só esperando por nós no dia seguinte.
No dia seguinte já fomos dar uma olhada de perto e remamos até o pico. Estava pequeno, mas sabíamos que um bom swell estava vindo, então mesmo com ondas pequenas surfamos e nos divertimos muito. Teahupoo mesmo quando está pequeno é meio traiçoeira, a onda é fácil quando está até 3 pés, mas um pequeno erro, pode te deixar todo ralado, pois o reef é bem afiado e vivo, e mesmo pequeno ela sempre resolve nos presentear com algumas séries maiores, que podem vir do nada e te pegar de jeito, quebrando sem dó nem piedade em sua cabeça.
O primeiro surf foi muito bom, acreditem, chegar em Teahupoo e já logo de cara pegar um Teahupoo 6 a 8 pés de oeste não é muito legal, com certeza assusta qualquer um, é lindo de se olhar e um espetáculo, mas chegar com um swell pequeno e ir se adaptando é muito melhor, pois quando elas crescem, você meio que já está adaptado ao balanço da onda e todos os seus truques.
Após uma semana o primeiro grande swell veio, nós todos já sabíamos o que estava vindo, então na noite anterior todos estavam super ansiosos, eu mesma mal dormi a noite toda, pois ouvia o barulho das ondas quebrando na beira, em frente a casa onde eu fico, e pelo barulho sabia que o outro dia seria forte. A previsão era de 7 a 12 pés, ao acordar nos organizamos e fomos para o pico, estava muito bonito e ao mesmo tempo super lotado, as ondas estavam com um tamanho de 6 a 10 pés na série e algumas perdidas de 12, mas estas raramente quebravam.
Amo o Tahiti e sempre vou defender e dizer que é o meu lugar predileto do mundo, mas naquele dia notei que as coisas estavam mudando, antigamente em um dia como este você até iria encontrar crowd, mas aquele dia estava parecendo que eu estava em Pipeline, pois a guerra por uma onda boa estava brava. Pude surfar ondas ótimas neste dia, achei boas ondas e fiz um tubo muito longo e senti a adrenalina que eu tanto gosto dessa onda.
Muitos me dizem que eu sou uma das poucas mulheres que surfa Teahupoo em condições díficeis, e isso me deixa feliz, porque eu realmente gosto, não surfo para provar nada a ninguém e nem para aparecer, eu sempre gostei de adrenalina e de estar testando os meus limites. Não sou uma big rider, longe disso, mas gosto de ondas consideradas perigosas e com um tamanho considerado maior do que o normal. Sei que é bem perigoso, e já quase morri inúmeras vezes, agora vai explicar isso para a minha cabeça….hehehehe…. que mesmo quando sinto medo ainda me manda ir. Amo a sensação que tenho após um dia de ondas assim, me sinto tão feliz e completa após um dia de surf em ondas como Teahupoo, que é difícil descrever a sensação. São três temporadas já nesta onda e sinto que a cada temporada me supero mais e mais.
Após este swell pegamos vários dias com tamanhos regulares, e alguns outros dias com um tamanho maior, mas nada comparado ao primeiro swell que vimos.
Como eu mesma disse, a cada ano me jogo mais, então ao mesmo tempo, tenho mais machucados também….hehehe!! Este ano surfei somente de roupa de borracha, pois com a experiência que tive dos outros anos sei o estrago que bater no coral faz e o quanto demora para cicatrizar um machucado em Teahupoo, eu mesma estou com um que já esta fazendo aniversário de um mês. Dizem que o limão que tanto aconselham passar logo após nos cortarmos não ajuda, mas ajuda sim, por experiência própria, vi que um machucado que tive e não passei limão logo em seguida, demorou muito mais para cicatrizar do que um que passei. Mas mesmo assim, um conselho que dou a todos que pretendem visitar a ilha algum dia é que levem bastante remédio para cortes (anti- sépticos, anti inflamatórios e antibióticos), pois um pequeno arranhão se torna uma ferida enorme caso mal cuidada e os remédios lá são muito caros, também aconselho a fazer um seguro antes da viagem, pois a onda é perigosa mesmo, um vacilo e é hospital mesmo, se ela te pegar de jeito. Também aconselho a todos a levarem comida, sim, comida, pois lá é tudo muito caro. Como dizem o paraíso não é barato! Outra dica é o repelente, pois tem mais mosquito que onda se deixar e ainda tem a onda da dengue que também chegou pela ilha.
Nesta temporada no Tahiti, me machuquei muito, retornei da viagem com tantos roxos e cortes, que nem pareço uma mulher, e sim mais um moleque arteiro. A minha roupa de borracha então que o diga, a abandonei lá mesmo, pois estava parecendo uma peneira de tanto rasgo. A coitadinha aguentou bastante, e ainda bem que eu a usei, pois sem ela, teria com toda certeza tomado alguns pontos. Surfar esta onda tem o seu preço, e o meu foi não ter joelhos bonitos, pois os mesmos estão cheios de cicatrizes.
Bom, dos males o menor, pois ficar com algumas cicatrizes após surfar essa onda tão perigosa é lucro perto dos estragos que ela pode fazer. Como meu amigo Tahurai, um bodyboarder local diz, um tubo bom em Teahupoo tem o seu valor, e as vezes a onda cobra caro. Pude ver vários amigos com cortes enormes na cabeça e cheios de pontos, outros com o ombro deslocado e outros parecendo que haviam passado na máquina de moer carne. Não presenciei a hora em que a atleta Maya Gabeira quebrou o nariz, pois eu havia acabado de sair do mar minutos antes, mas ela é uma que sabe o quanto essa onda é agressiva para mulheres, pois já se lesionou inúmeras vezes lá.
Após eu colocar pânico e terror em todo mundo, falando somente dos perigos dessa onda tão maravilhosa, ainda assim aconselho a todos a visitarem o paraíso. O Tahiti tem o verdadeiro espirito ALOHA, e mesmo quem não surfa vai sentir isso, são tantas maravilhas, vegetação exótica, montanhas magníficas, animais marinhos de todas as espécies e na minha opinião o melhor de tudo um povo com um amor e carinho enorme para oferecer a todos.
Este ano não surfei uma onda maior do que a que surfei em 2007, mas tirei o triplo de tubos do que no ano anterior. Então estou muito no lucro, é sinal que estou aprendendo a ler essa onda tão complicada. Comi muito peixe, o meu prato predileto poisson cru e conheci outros que se tornaram meus prediletos também, o mape e o taro.
Apresentei a minha família tahitiana grandes amigos e reencontrei minhas amigas irmãs, Marcella Callado e Camilla Callado novamente para essa nova aventura após todos estes anos, e tudo foi muito bom. Vivemos grandes momentos na ilha, aquele lugar para mim é o lugar que sempre vou para refletir, costumo dizer que todos que vão ao Tahiti voltam diferente, pois acabam usando os dias na ilha para relaxar, pensar na vida e quando voltam ao seu lugar de origem tudo muda, comigo sempre foi assim, e tenho quase que certeza de que com os outros também. Aquele é o lugar da transformação, uma vez em Teahupoo e escrevam nunca mais sua vida vai ser a mesma. Posso ser exagerada, mas as histórias que conheço de algumas pessoas que passaram por lá me provaram que estou certa em meu ponto de vista.
Gostaria de compartilhar aqui com vocês um pouco das coisas que aprendi com a minha família Tahitiana. Essa família é extremamente mística, assim como outros tahitianos do povoado de Teahupoo.
Na casa onde eu fiquei havia uma menina grávida a Valentine, eu pude acompanhar o final da gravidez dela, e achei muito legal uma das coisas que vi a minha mãe Tahitiana fazendo. Após o nascimento do bebê, a mãe apareceu com um saco e nele havia a placenta do bebê. Eles enterram a placenta em um lugar junto com uma muda de uma planta que se tornará uma árvore linda, e dizem que quando a árvore morre a pessoa morre também. Elas me comprovaram que a lenda não era mentira com algumas histórias e eu achei muito lindo, pois realmente o Tahiti tem as árvores mais lindas que eu já vi e é o lugar mais florido também. Achei meio estranho que a mãe pedisse que eu plantasse a placenta e não as meninas, perguntei o porque e elas não me falaram, pensei logo, por eu estar solteira e por elas desejarem tanto que eu volte com o meu futuro marido e filho para a ilha. Posso estar enganada, mas pelas brincadeiras que elas faziam comigo foi o que entendi….hehehehe!!
Outra coisa bem legal que também se vê quando se vai ao Hawaii, e também é bastante visto no Tahiti, são as moças usando flores na cabeça, uma flor do lado direito significa solteira e uma do lado esquerdo, que é o lado do coração significa casada. Como eu mesma disse, elas viviam brincando comigo por eu estar sozinha, e me mandaram colocar uma árvore com flores no lado direito, de uma vez por todas, para ver se isso mudava….hahahaha!
Para finalizar, deixo a minha última dica, se forem ao Tahitii comam o Fafaru, é uma comida tímica e meio mística também, se trata de um peixe cru que é deixado em um recipiente fechado com água, alho e cebola durante alguns dias, e é servido de várias formas, sendo a melhor a que acompanha batata doce e leite de coco, o cheiro é horrível, mas dizem que o valor nutritivo triplica ao ser preparado desta forma. É bem conhecido por ser a comida dos reis no Tahiti, e diz a lenda que quem come sempre retorna a ilha. Então bora comer bastante fafaru em sua ida ao Tahiti para que você retorne sempre e possa disfrutar o tanto quanto eu pude.
Quero agradecer aos meu patrocinador AGTAL, e apoiadores Seaster, Hermosa biquinis, Malarrara, Ipanema Pilates e academia Power Club, por me ajudarem sempre.
Estou treinando muito para o tour mundial e após a temporada havaíana tive a oportunidade de poder treinar em Teahupoo no Tahiti, logo em seguida estarei seguindo para o Chile onde compito a segunda etapa do mundial. Conto com a torcida de todos e também peço que me ajudem na divulgação do meu trabalho como atleta, assim consequentemente me ajudando na procura de novos patrocinadores.
Mauruuru a todos!