No primeiro swell do ano praia Brava insana
10/Jan/2009 - Artur Dobairrol - Florianópolis - Santa Catarina - BrasilO domingo amanheceu chuvoso, o vento sul soprou forte por toda a noite. O mau tempo provocou inclusive alguns estragos na região. Tudo me levava a crer que seria mais um domingo tranqüilo junto à família.
Por volta das nove horas da manhã, como já é de rotina entrar no Messenger para fazer o link com a galera e captar alguma informação para o dia, logo os primeiros contatos foram surgindo. O Henrique Gentil, que é surfista local da praia Brava de Florianópolis, me chamou, e colocou a maior pilha para a gente ir dar um “check” nos picos alternativos da região. Sem pensar duas vezes, já fui catando os equipamentos, carregando a mochila e pegando a estrada atrás das “olas”.
O mar estava muito grande, no Santinho as ondas passavam dos três metros nas séries, tava tudo “storm”, sem condições nenhuma para surf neste pico.
Peguei o Henrique no ponto combinado, e fomos atrás das ondas. Nosso primeiro “check” foi num pico com fundo de pedra, essa onda é guardado a sete chaves pelos locais, mas acreditem para se chegar até ela já é uma empreitada cascas grossa. Após caminharmos por quase trinta minutos numa trilha de lama escorregadia e cercada por arvores, espinhos e claro muita chuva no caminho, chegamos ao pico. O lugar lembra um cenário de filme de surf gringo, o local onde quebram as ondas é uma bancada de pedras expostas, mas perfeita. A condição não estava ideal, mas mesmo assim já deu para ter uma noção do que é a onda. Seguimos então atrás do nosso objetivo.
O próximo pico que a gente iria conferir era a Brava, pois lá era a praia mais próxima do local que a gente estava e a chance de ter grandes e boas ondas lá era real. Na subida do morro a adrenalina já havia nos contagiado e algo me dizia que toda aquela “indiada” estava por se tornar algo muito recompensador. Dito e feito, já de cima do trapiche do morro da Brava o cenário era lindo e ao mesmo tempo assustador. Series com mais de dez pés quebravam perfeitas por toda a praia, em valas bem definidas e consideravelmente grandes. Era um cenário real de big surf.
No mesmo momento peguei o telefone e fiz os primeiros contatos atrás de conhecidos e amigos que eu sabia que entrariam no mar naquelas condições. O primeiro que me veio na cabeça foi o Leonardo Melo, esse eu tinha certeza que enfrentaria aquelas condições com o Henrique, e amarradão. Ficamos esperando o “Melinho” por uns quarenta minutos no estacionamento, observamos o mar e a questão era: que tamanho tinham as ondas.
Realmente tudo estava à nosso favor, após muita chuva, trocas de direções de ventos, e mudanças repentinas no tempo, enfim quando o “Melinho” chegou parece que tudo se firmou. O vento alinhou pra sul, o tempo abriu e parou de chover, e até um pouco de luz para as fotos apareceu. Com o aparato necessário pegamos a trilha novamente e seguimos até o local de onde eu ficaria para fotografar. O Henrique e o Melinho seguiram pela trilha e após uns quinze minutos surgiram do nada por entre as pedras, no local que seria o ponto do pulo pra entrar no mar.
As condições estavam grandes e muito difíceis, a correnteza estava forte e para dificultar ainda mais a situação, os dois escolheram a hora errada de pular, e acabaram tomando toda a série na cabeça. A onda do outside, quando entrava o seriado passava dos dois metros e meio tranqüilo, e para aumentar mais ainda o grau de dificuldade do surf o “drop” tinha que ser feita num ponto bem especifico da onda, era remar na bolha senão não entrava na onda. Uma condição muito casca.
Logo em seguida chegou o Marco Pólo com mais dois amigos (os surfistas “snis” da matéria), o crowd no pico foi de apenas cinco surfistas.
Aos poucos todos foram se encontrando no pico, e na primeira série (que já veio varrendo) o Marco Pólo remou forte, dropou no meio da espuma branca e botou pra baixo numa das maiores. A onda era definida num grande drop e logo em seguida já ficava gordo. O drop estava insano e grande, e essa era o ponto crucial da session. A adrenalina do pico estava em alta, pois a onda quebrava sempre no mesmo lugar e quando entrava as grandes séries tinha ondas de 9 a 10 pés (isso segundo relato dos surfistas que entraram no mar).
Foi uma session de poucas ondas surfadas, mas todos na vala tiveram o seu momento de gloria e não ficaram de “peixe bóia” na história, o big surf já é por si uma condição de extrema dificuldade, não é uma modalidade para inexperientes, e ainda mais aqui no Brasil onde não se tem um canal para varar, e é tudo na raça e no peito mesmo.
O surfista de long azul (que mais tarde ficamos sabendo que era o irmão Marco Pólo com), mostrou bastante disposição e audácia durante toda a session, a condição era de forte correnteza, e para se manter no pico era necessário ficar o tempo todo remando (uma remadeira) em direção a bolha do drop. O surfista “Azul” foi protagonista do mais assustador e insano, drop do dia, e em contra partido da mais sinistra vaca (veja a foto no álbum). Em troca disso pegou as melhores ondas e demonstrou bastante conhecimento do pico.
Conhecedor das ondas da região, Henrique Gentil esperou o tempo certo de pegar as suas ondas (e ainda com a prancha emprestada do Melinho). Para finalizar o dia de cabeça feita, protagonizou um dos maiores drops da session, a onda tinha uns dois metros e meio pesados.
O surf foi num modo geral foi satisfatório e bom para todos os que participaram da session, cada um soube aproveitar ao máximo das boas ondas dentro do seu limite individual, foi um surf de superação, mas o importante é que todos saíram de cabeça feita e botaram pra baixos nas grandes ondas.
O tempo foi passando e o mar perdendo um pouco da sua força, as ondas no outside começaram a ficar menos freqüentes, a galera ainda fez de “saídera” uma session no inside, que também estava muito perigoso, onde qualquer falha poderia ter o seu preço. A luz foi acabando, e as forças também. Por final consegui levantar o nome de um dos Snis da sessions, o Cristian é o Sni da direita insana (lycra preta). Fim de session, todos exaustos de cabeças feitas e com o sentimento único: Big drop.
# PRESERVE AS NOSSAS PRAIAS, RESPEITE OS LOCAIS, E BOAS ONDAS