Onda Medina impulsiona surfe e vira inspiração para promessas de favela
Jovem de 14 anos ganha oportunidade de entregar prancha para ídolo. Coordenador do Favela Surf Clube, do Rio, ressalta que título mundial aumentou a procura.
27/Jan/2015 - Amanda Kestelman - Rio de Janeiro - BrasilA vida de Gabriel Medina mudou desde que se tornou campeão mundial. Virou centro das atenções. Mas seu feito no Havaí pode mudar mais do que a sua rotina. Nesta segunda-feira, durante a coletiva de imprensa de um evento do qual é embaixador, ele recebeu das mãos de um jovem surfista um prancha feita em uma comunidade no Rio. O fã e também colega de profissão tem 14 anos, se chama Anderson Carvalho da Silva e atende pelo apelido de Picachu. Um nome de uma nova geração do esporte brasileiro que agora tem Medina como espelho, fonte de inspiração e incentivo.
- Acho que ele vai levar a prancha de lembrança para ele. Medina é inspiração. A gente fica vendo os vídeos dele, vejo ele dando um aéreos para ver se dentro da água a gente também consegue. Sonho chegar lá - disse o jovem, que ganhou o apelido de um tio que dizia que tinha a ''cabeça grande''.
Picachu é bicampeão estadual de surfe. Nascido e criado na comunidade do Cantagalo, ele faz parte do projeto Favela Surf Clube desde muito novo. Hoje a escolinha atende até 70 alunos (nos períodos de férias) com aulas na praia do Arpoador. É obrigatório estar matriculado na escola para aprender o esporte. Para um dos idealizadores do projeto, ter um ídolo como Medina é fundamental para o crescimento de todos os projetos deste tipo.
- Fico muito feliz com isso. Preparar o Picachu para esse momento. Até porque ele já vivencia esse ambiente. De estar envolvido. Na etapa que vem para o Rio, ele fica inserido com os atletas internacionais. Para ele é emocionante. Hoje ele está realizando um sonho de entregar uma prancha que foi feita dentro do nosso projeto para o Medina - disse o coordenador do projeto, Alexandre Silva Carvalho.
Gabriel Medina sabe que seu feito e o peso de seu nome podem angariar crescimentos importantes para seu esporte no Brasil. Ele espera, por exemplo, que sua notoriedade melhore o número de competições do país.
- Fiquei sabendo que o Brasil não tem hoje um campeonato brasileiro. Mas que, depois que ganhei, vai ter uma etapa do Super Surfe, que serve como brasileiro. Espero que seja a primeira mudança de muitas e que a galera incentive mais campeonatos no nosso país - disse Medina.
Na comunidade do Cantagalo, a mudança já começou a ser sentida. Segundo o coordenador, desde o primeiro título mundial conquistado para o Brasil no ano passado, o pensamento dos jovens surfistas dali é mesmo: todos querem ser Medina.
- A gente está tendo um número maior de alunos perguntando pelo projeto. Não só ser o Medina como o Picachu, que está no dia a dia com eles ali. Ele também passa a ser uma referência: o surfe cria cidadão e também cria um atleta.
Gabriel Medina já voltou à sua rotina de treinos. No dia 7 de fevereiro ele embarca para um período de treinamentos no Havaí. Em seguida, viaja para as disputas da Austrália, que recebe as primeiras etapas do WCT 2015.