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PEDRO HENRIQUE: "QUANDO VIM PARA PORTUGAL TINHA 100 EUROS NA CARTEIRA"

Aos 33 anos e depois de na década passada ter conseguido entrar no restrito lote da elite mundial e se ter sagrado campeão mundial júnior, Pedro Henrique ainda continua a dar que falar.

02/Fev/2016 - Redação Surfguru - Portugal

O triunfo no SEAT Pro Netanya foi o segundo em poucos meses, desde que começou a correr o WQS com a bandeira portuguesa e o seu trajeto não passou despercebido à WSL, que aproveitou o triunfo do surfista de Cascais em Israel para conversar com ele.

Pedrinho surge assim em destaque no site da World Surf League. Uma entrevista que mergulha no passado do surfista luso-carioca e que vem até à superfície do presente, guiada sempre com muita sinceridade e humildade por parte do mais recente guerreiro da armada lusa, mas, acima de tudo, com bastante fé. A fé que agora começa a ter retorno. O atual número um do ranking do WQS na Terra Santa e na primeira pessoa...

WSL: O que te dá mais orgulho fora do surf?

Pedro Henrique: Sou muito agradecido pela minha família. Tenho uma mulher incrível, duas filhas lindas e muito apoio por partes delas. Elas são a coisa mais importante da minha vida e a minha família é aquilo que de melhor já construí. Mudámo-nos recentemente para Portugal porque os meus avós são portugueses. Foi uma grande mudança difícil de fazer, por isso decidimos fazê-lo após eu parar de viajar tanto.

WSL: Qual foi o momento mais difícil da tua vida?

PH: Houve muitos momentos complicados na minha vida. Mas talvez o pior tenha sido em 2010 quando perdi os meus patrocinadores. Nesse ano quase consegui qualificar-me novamente para o CT, mas estava a competir sem ter um salário e não consegui encontrar outro patrocinador. Não consegui juntar o dinheiro suficiente para fazer uma temporada inteira. Já não podia competir mais e na minha cabeça estava completamente fora do surf. Não sabia se algum dia iria ter a hipótese de voltar a competir. Isso foi muito duro porque desde criança que dediquei toda a minha vida ao surf. A minha família não é rica e não acabei a escola porque arrisquei tudo na oportunidade de vir a ser um surfista profissional. Sentia que era uma situação injusta e que já ninguém acreditava em mim.

Nessa altura não surfava muito porque precisava de trabalhar. É muito complicado para os brasileiros... Quando não tens uma família rica e perdes os patrocínios ficas sem poder fazer nada. Estive quase a viver na rua. Mas esse é um momento da minha vida que me fez compreender muitas coisas e tornou-me mais agradecido. Olhámos para a mudança para Portugal como uma oportunidade de construir uma nova vida. Mais calma, fácil para a minha família e mais segura que no Rio de Janeiro. Tínhamos 100 euros na carteira e tive uma ajuda incrível do Álvaro da Polen. Tudo começou a acontecer devagar. Estávamos a trabalhar e comecei a surfar novamente. As pessoas começaram a acreditar em mim e tive algumas oportunidades de competir. Agora, cá estou eu de novo.

WSL: Se tivesses a oportunidade de dar um concelho ao próprio Pedro Henrique quando tinha 5 anos, qual darias?

PH: Aquilo que ensino às minhas filhas: Façam o que amam e não se preocupem com o que os outros pensam. Não as empurro para o surf. Gostava muito de as ver surfar, mas não as posso obrigar a fazer isso. Já começam a gostar de andar de skate. Se elas surfarem é porque foram mesmo elas a querer fazê-lo.

WSL: Do que é que tens mais medo?

PH: Tenho medo de muitas coisas, mas tento que os meus medos não me impeçam de fazer as coisas. Lembro-me que quando era jovem perdi muitas oportunidades porque tinha receio daquilo que as outras pessoas poderiam pensar de mim. Coisas simples, como o que fazia nos heats. Mas aquilo que me assusta mais agora é a possibilidade de não ser um bom marido ou um bom pai, que passa os ensinamentos certos para a sua família. Isso é mais importante que resultados ou dinheiro. Penso que nada é mais importante na vida do que receber bons ensinamentos quando és criança.

WSL: Se pudesses viver em qualquer lado onde escolherias viver?

PH: Neste momento, estou muito feliz em Portugal. Mas o Havai seria sempre um sonho.

WSL: Qual é o amor da tua vida?

PH: Jesus Cristo. Visitei o seu túmulo em Jerusalém depois do campeonato. Foi um momento muito especial. Passei grande parte da minha vida a ler sobre ele e a tentar entender o que aconteceu com as pessoas antes e depois de Jesus. Por isso, é incrível ver o local onde as coisas aconteceram.

WSL: Qual foi o melhor conselho que já te deram?

PH: Uma vez o Andy Irons veio ter comigo quando estávamos no autocarro em Mundaka. Estava muito chateado porque tinha perdido o heat e precisava mesmo de um resultado para me requalificar. Ele chegou-se perto de mim e disse: "Hey, não te preocupes. Isto é só um campeonato. A tua vida não vai mudar por ganhares ou perderes um heat. Naquela altura não liguei muito àquilo porque estava demasiado preocupado em tentar manter a vida que tinha. Estava focado em continuar no CT e manter os meus patrocinadores, que acabei por colocar muito peso sobre os meus ombros. Depois de perder tudo, percebi que aquilo era só um campeonato. A tua vida não se trata apenas de um heat.

WSL: Há alguma coisa na tua vida que terias mudado?

PH: Tudo o que fazes na vida torna-te uma pessoa melhor. Mesmo as partes mais negativas não mudaria, porque elas tornaram-me um pouco mais sábio e mais forte.

WSL: Qual a qualidade que mais admiras nas outras pessoas?

PH: Admiro muito aquelas pessoas que lutam por aquilo que realmente querem. Mas também gosto daquelas pessoas que conquistam algo e continuam humildes.

WSL: Qual a onda mais "overrated" que conheces?

PH: Em Portugal há muitas (risos). Há uma onda em Portugal chamada Santa Amaro [Santo Amaro de Oeiras]. É uma direita que dá alguns tubos. Mas está sempre 'gorda' e com muito crowd. Depois desta resposta talvez nunca mais me deixem surfar lá (risos).

WSL: Para ti qual é o maior problema que a humanidade enfrenta?

PH: Ganância. Quando os políticos são corruptos e querem cada vez mais e mais. Isso nunca tem um fim... Penso que é uma das razões pelas quais temos problemas no Mundo. Toda a gente quer mais.

WSL: Qual é o sentido da vida?

PH: Acredito que Deus nos fez para termos uma vida boa. Mas nós tornamos as coisas mais difíceis porque não seguimos exatamente aquilo que ele queria que fizéssemos. Contudo, penso que seria suposto termos uma vida saudável, feliz e boa da melhor forma possível. Acredito que essa é a razão de Deus nos ter criado.

WSL: Que ator gostarias que fizesse o papel de Pedro Henrique num filme da tua vida?

PH: Sou muito mau com o nome dos atores. Talvez aquele rapaz, o Matt Damon. Penso que ele poderia interpretar a minha pessoa. Foi ele que fez aquele filme de luta, certo?

WSL: Talvez queiras dizer o Mark Wahlberg...

Fonte: SurfPortugal