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Praia Segura 2: Matadouro é a peça que faltava pro quebra-cabeças dos tubarões

19/Abr/2005 - Gabriel Gomes Jr. - Recife - Pernambuco - Brasil

Uma dúvida sempre ficou até hoje: seria o porto de Suape razão forte o suficiente para ocorrerem tantos ataques de tubarão no Recife todos os anos?

Um fato descoberto recentemente pelo pessoal do Praia Segura parece ser a peça que faltava no quebra-cabeças de teorias a respeito dos ataques! Durante um mês inteiro Rômulo Bastos tentava em vão convencer um vereador local a ajudá-lo a fechar um Matadouro que fica à margem do rio Jaboatão, o político que já foi surfista quando mais jovem sempre protelava a ação, até que impaciente Rômulo resolveu agir por conta própria.

"Acordei um dia bem cêdo, antes da hora do trabalho", conta ele, "de 5 horas da manhã entrei pelo mangue até chegar embaixo da parede do matadouro que dava para o rio", ele fala que constatou na hora um fato estarrecedor, "carcaças e restos de bois, inclusive o sangue, eram lançados sem nenhum cuidado no rio Jaboatão!"

O Matadouro era responsável por abater em média 100 cabeças de gado todos os dias, e não havia nenhum tratamento, exigido por lei, na eliminação dos restos dos animais. Já haviam quatro notificações para a interdição do Matadoro através da CPRH, órgão fiscalizador, sem que jamais fosse tomada nenhuma atitude enérgica.

O pessoal do Praia Segura avisou a Rede Globo e no dia seguinte o GloboCop, como é chamado o helicóptero da emissora, sobrevoava o local, e a reportagem foi manchete do Jornal Nacional naquele dia. O Matadouro fechou! Coincidência ou não, nenhum ataque de tubarão foi registrado fazem oito meses.

Diante do fato, Dr. Fábio Hazin descobriu que houve um caso bastante semelhante na cidade de Mogadishu, na costa da Somália, entre os anos de 1978 e 1987, 30 ataques ocorreram, 28 dos quais fatais, num pequeno trecho da praia de Lido. Descobriu-se que um matadouro despejava sangue e restos de bois diretamente no rio Juba, que desembocava próximo a esta praia. Inclusive um porto também tinha sido anteriormente construído na área. Quando o matadouro foi fechado os ataques de tubarão simplesmente acabaram!

O Dr. Fabio Hazin porém alerta: é muito cêdo para abaixarmos a guarda e pensarmos que o problema tenha sido resolvido, é preciso se certificar, ele lembra que a maioria dos ataques ocorreu no período de inverno, onde as chuvas e os ventos são mais intensos.

Ele também afirma que o barco de pesquisas Sinuelo continua a realizar a pesca preventiva de animais grandes e considerados agressivos, como o tubarão tigre, o cabeça-chata e o gralha preta, mas avisa que a verba oferecida pelo FINEP só permite a pesca até o mês de julho. Nas semanas em que o barco sai para pescar não foram registrados nenhum ataque, e ele normalmente traz de volta um tubarão perigoso por viagem.

Outro alerta! Se a fiscalização não for intensa, surgirá em breve matadouros clandestinos à beira do rio, o que seria bem pior para combater. Fábio Hazin sugere que o Município faça um matadouro com as condições necessárias de higiene e de aproveitamento dos restos do boi, como por exemplo o cozimento do sangue.