#surf 

Raquel Heckert representando pelo mundo

Big rider niteroiense saiu do Hawaii, foi pra Indonésia e depois para o México pra competir num evento de ondas grandes

19/Nov/2018 - Raquel Heckert - Niterói - Rio de Janeiro - Brasil

Após uma longa temporada de 6 meses no Havaí, surfando onda grande e trabalhando bastante, eu fui para a Indonésia em busca de tubos.

Eu me hospedei na casa de uma amiga, dona da marca @cliffswimwear, em Bali, onde foi minha base, lá tive a oportunidade desta vez de explorar alguns secrets que não havia surfado até então, depois fiz uma sequência viajei para Mentawaiis pela primeira vez com o barco da @santaluziaboat/@mentawaiisurfgirls; passei também uns dias em Kuta Lombok, onde surfei a onda de Mawi; fui para os picos de Scars, Super Sucks e Yoyos na ilha de Sumbawa; assisti a vitória do Italo Ferreira em Keramas e tive a oportunidade de competir um campeonato de Long board e Open Feminino do Tour Asiático de Surf na praia de Kuta.

Planos retraçados

Após esses dois meses surfando na Indonésia, recebi um convite inesperado... Eu estava tranquilinha, pegando umas ondas no bukit, animada para assistir a final do Campeonato da WSL em Uluwatu, quando fui convidada para competir o Primeiro Campeonato de Ondas Grandes Feminino no México - O Puerto Escondido Cup da Monster Energy. Um dia após o convite, o evento já estava em "alerta amarelo", ou seja, com grande chances de ser realizado, e como a organização estava me convidando para ir, tive que deixar Bali no dia seguinte.

Inesperada temporada no México 

Quando cheguei em uma das minhas conexões no Japão, recebi a noticia de que o evento não rolaria no final de semana e que havia sido colocado "em espera" por um swell maior. Como eu já estava a caminho, segui viagem. Pensei também desde do ínicio que seria bom chegar antes, pois eu teria tempo de treinar no local do Campeonato.

Nada é fácil

Eu tinha no meu coração de voltar ao México, mas por falta de grana eu tinha abortado a missão e pensado que depois que meu dinheiro acabasse o destino seria Brasil. Gastei 380 dólares só para trazer minhas pranchas de Bali para o México e quando cheguei na Cidade do Mexico acabei perdendo meu voo local, por atraso da entrega das malas da companhia. Ai então, acabei tendo que comprar outro voo, que sairia apenas no fim do dia.  Parte do dinheiro que eu tinha para alimentação e estadia, tinha ido embora apenas com "aeroporto". Graças a Deus meu namorado me ajudou com a compra da passagem e quando cheguei no México meu avô ficou de me ajudar com a gunzeira para competir.   

Fui para o México com pouquíssimo dinheiro, comi em lugares locais, e acabei descobrindo comidas muito boas e baratas. Como eu já tinha chegado no México, e já estava acostumada a andar pela fé, sabia que Deus ia tomar conta de tudo. O negócio é não pensar muito e dropar! Deus ajuda, é só ter fé! Haha

Mãe, chegueeei! Haha

Eu fui a primeira competidora a chegar em Zicatela e Lucas Chumbo o primeiro dos meninos. Logo que chegamos, fomos de imediato convidados para uma coletiva de imprensa sobre o Campeonato (em espanhol), Ahaha, foi uma experiência muito bacana! Representamos o time brasileiro. Pegamos umas ondas, fomos treinando e conforme os dias foram passando, mais atletas chegaram e o pico foi ficando cada dia mais lotado. 

Semana prometida

A semana do Campeonato foi de muita correria. A direção do swell prometia boas condições, porém a regra da lista de convidadas do campeonato havia sido mudada. As mulheres que estavam no Ranking do Big Wave Tour da WSL ganharam espaço no evento e eu e outras competidoras acabamos nos tornando atletas de lista da lista de espera por vaga no evento.

Logo achei que com as surfistas que haviam convidadas seria dificil eu conseguir competir, porém menos de 72 horas antes do campeonato, as atletas convidadas começaram a dizer que não participariam do Campeonato: Paige Palms não poderia ir, Laura Enever estava na China, Justine Dupont tinha acabado de chegar no sul da África para competir um QS e outras não iriam por causa de lesão e etc...  Então, acabei assim entrando de volta ao evento! 

Its ON!  

No dia do evento as ondas estavam de 12-15 pés. Fiquei muito feliz com a performance feminina neste campeonato. Quem acompanhou pela internet ou da praia de Zicatela, sabe que foi uma final muito intensa. Na nossa bateria, a maré tinha enchido, era o pico mais alto do swell, o vento havia entrado com força, sem contar das valas de correnteza mostruosas que estavam se formando. Vários sites de surfe internacionais, como The Inertia, Surfline, Surfer Magazine comentou que foi a bateria mais pesada de todos os tempos! E sem dúvida, foi a competição de mais ALTO nível que já competi até então! Foi sinistro.

Pódium

No masculino Lucas Chumbo venceu, Jimel Corzo em segundo, Angelo Lozano em terceiro, Sasha Donnanno em quarto, Jafet Ramos em quinto e Jojo Roper em sexto.

No feminino Bianca Valenti ficou em primeiro lugar, Isabelle Leonhardt ficou em segundo, Keala Kennelly em terceiro, eu em quarto, Emi Erickson em quinto e Polly Ralda em sexto. 

Foi punk competir ao lado de @kealakennelly e @biancavalenti, pessoas que vêm me inspirando há anos e que já vem lutando pelo surfe feminino antes mesmo de eu ter ficado em pé em cima de uma prancha.

Pós-evento 

Após o campeonato fui surfar umas ondas manobráveis no sul do México e quando voltei, dei continuidade aos treinos. Houve alguns swells pesados "bem fechadeiras", que a gente entrou mesmo com as condições complicadas e rolou uns dias de tamanho médio para pequeno de bons tubos! Sempre tem um treino, mesmo que seja só o piscológico.

Quando a previsão era de pouca onda, eu nadava e corria com o incentivo do meu amigo Big rider Coco Nogales, e aproveitava para fazer treino de apneia com minha amiga Polly Ralda no hotel que estavamos.

É muito bom estar próximo de uma galera disposta a treinar com você, eleva seu ritmo de treino.

Surf feminino  

Existem aproximadamente 7,6 bilhões de pessoas no mundo, e estima-se que há no total trinta mulheres no mundo que surfam ondas grandes e apenas 17 surfistas se dedicam ao esporte com a finco. 

Torço muito para que o surfe feminino seja mais incentivado e reconhecido. Quando surfamos tanto mar grande quanto pequeno, enfrentamos dificuldades como qualquer outro surfista do sexo masculino, merecemos nosso espaço. Somos atletas, de forma geral, de um esporte extremamente radical, dedicamos nossa vida a vencer o medo, a fadiga, colocamos nossa vida sempre em risco e representamos nossa nação nas ondas mais temidas do planeta. 

Eu fiquei super contente que ao escrever hoje a matéria, após esta temporada no México, já posso dizer que a WSL divulgou igualdade nas premiações em todos os campeonatos de surfe para 2019, seja no WQS, CT e no Big Wave Tour. E que agora temos mais uma categoria no Awards de ondas grandes da WSL! Antes a categoria masculina tinha o prêmio para Maior Onda da Temporada, Melhor Performance do Ano e Pior Vaca e o feminino só tinha a de Melhor Performace do Ano, agora também temos a categoria de Maior Onda surfada da Temporada e também podemos concorrer a Pior Vaca. Obs: Quero ficar fora desta última, rs...

Servir é melhor que receber

Nessa temporada eu tive a oportunidade de ensinar duas criancinhas locais a nadar, como as mães não sabiam, me pediram que eu as ensinasse pois sempre que havia um festa ou as ciranças entravam no mar, elas ficavam de fora.

Expliquei que eu nunca havia ensinado alguém a nadar, mas que seria um prazer passar meu conhecimento de alguma forma. Pedimos permissão ao Hotel em que eu estava e passei algumas horas do meu mês com as crianças na piscina. Eu não imaginava que eu poderia ensinar alguém a nadar do zero, foi uma experiência linda pra mim eu só havia ensinado pessoas a surfar até então.

Trouxe muita alegria ao meu coração, me sentir útil em contribuir um pouquinho para a segurança daquelas crianças. A partir daquela experiência, em cada local humilde que eu for surfar no mundo, eu quero buscar a oportunidade de ensinar pelo menos uma pessoa a nadar ou a surfar.

Em memória do Oscarin 

Senti-me muito honrada de ter sido convidada para fazer o sorteio de escolhas das baterias do Campeonato Mexico Pipe Warrios, em memória ao nosso amigo surfista Tube rider Oscar Moncada, falecido no ano passado. O evento foi de tubos, pois ele era um dos melhores tube riders Mexicanos e tinha um carisma sem igual. Foi muito triste perdê-lo tão cedo, ele faz muita falta.

Para o Evento foram convidados 36 dos melhores tube riders e big riders do mundo. Os três dias foram de altas ondas. No primeiro dia, o maior, rolou uma "Expression session" e os outros dois outros dias rolaram as baterias em uns mares de tubos muito perfeitos. Foram exatamente três de dias de campeonato e três dias de condições épicas!

Meu amigo Pedro Calado teve a melhor potuação do campeonato até a bateria final. Ele se destacou o campeonato inteiro, mas infelizmente o pódium foi decidido num momento que o mar já não estava tão bom. Ele ficou com a quarta colocação, que está boníssimo! Quem ficou em primeiro foi Balaram Stack, surfista de Nova York, que havia acabado de voltar de meses de recuperação de uma cirurgia na coluna.

Encerramento de mais uma temporada!

Para fechar, na minha última semana antes de voltar pro Brasil, fui coroada embaixadora do @ahava.project, criado pelo surfista Coco Nogales. Ahava quer dizer amor e o projeto vem inspirarando, ajudando e motivando as crianças através do surfe. Senti-me muito honrada de ser convidada para fazer parte de um projeto local tão especial. 

Eu, @pedrocaladoo e @cristianmerello somos agora os embaixadores internacionais do projeto, com a ideia também de sempre estar apoiando um ao outro no surfe e fazendo a diferença na vida das pessoas no dia a dia.  

Enfim, depois de um ano fora, eu estava contente em voltar para casa e rever minha família! Foi uma temporada de muito aprendizado, peguei boas ondas, treinei, competi e voltei para casa com boas lições para vida.

Dois dias depois que cheguei no Brasil, apareceram mais dois swell grandes no mapa para Puerto. Um dos swells foi o maior da temporada! Lucas Silveira e Eric de Souza chegaram logo após que fui embora. Eles pegaram uns tubos enormes e representando o time das mulhereees Bianca Valenti, surfista da California, botou pra baixo numa bomba! #girlspower

Agradecimentos:

- Primeiro lugar, SEMPRE a Deus!

- Igreja Sunset Christian do North Shore- Oahu, por ser uma família para mim quando estou Havaí.

- Kariana Matos, da marca @cliff_swimwear, pela estadia e biquines maravilhosos em Bali.

- Fu Wax Brasil, pela parceria da melhor parafina do mundo!

- O @purosuco.oficial de Itacoatiara por me ter no time já por um ano, me oferecerendo o melhor açaí e lanches naturais pós surfe!

- A @koneaodigital por sempre estar me dando dicas nos meus projetos.

- O @studiolotufo pelo tratamento de hidratação para o meu cabelo de surfista. Hehe

- O @studiofisioupoficial por me auxiliar com os tratamentos estéticos.

- Obrigada aos meus queridos amigos shapers de prancha @boards_4_fun @villarsurf  @merresurf @fabiogouveia_fia  @rborgessurf  por todo suporte!

- Obrigada desde já a Banda @atitude67, que teve a atitude irada de me patrocinar com o colete de flutuação para minha próxima temporada de ondas grandes e campeonatos no Havaí!

- O @andresportmkt por estar me ajudando a conseguir patrocínio para os próximos meses.  

ALOHA!  

Agradeço a todos que me ajudaram a chegar até aqui, que não foram mencionados, mesmo nas coisas pequenas!

Raquel Heckert.