Reabilitada pelo Instituto Argonauta, foca-caranguejeira é solta na natureza
Foca que veio da Antártica havia sido resgatada no final de junho em São Sebastião, passou pelo centro de reabilitação em Ubatuba e está apta a fazer sua viagem de volta para casa.
29/Set/2021 - Instituto Argonauta - Ubatuba - São Paulo - BrasilA foca-caranguejeira (Lobodon carcinophaga) resgatada pela equipe do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS) no dia 30 de junho na praia de Calhetas, em São Sebastião, passou por reabilitação e foi solta hoje (27/09), pela manhã, a aproximadamente 100 km (60 milhas) da costa partindo de Ubatuba, no litoral Norte de São Paulo.
Na ocasião, o animal foi encontrado debilitado por moradores, que acionaram a equipe do Instituto Argonauta do PMP-BS da Unidade de Estabilização de São Sebastião, que se deslocou até o local, avaliou as condições de saúde da foca, e a transferiu para o Centro de Reabilitação e Despetrolização (CRD) em Ubatuba, onde foi cuidada por veterinários e recebeu reforço nutricional.
Após quase três meses de cuidados na reabilitação, a foca-caranguejeira ganhou peso, recebeu marcação com um brinco com numeração e contato nas nadadeiras posteriores, que permitirá sua identificação em uma possível reavistagem.
O transporte do animal até o alto-mar contou com a construção de uma caixa feita sob medida para sua acomodação. A operação contou com o apoio do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), por meio da equipe do oceanógrafo Milton Kampel, pesquisador responsável pelo Laboratório MOceanS (Monitoramento Oceânico por Satélite), da Divisão de Observação da Terra e Geoinformática, Coordenação-Geral de Ciências da Terra do INPE, que monitorou e forneceu as informações sobre as correntes marítimas ideais para a soltura do animal.
Ao ser resgatada, em junho, a foca-caranguejeira estava magra, com algumas lesões aparentes na pele e apática. Durante o período em que passou na reabilitação, a foca com cerca de 1.60 m, foi medicada, realizou exames, começou a se alimentar sozinha e demonstrou comportamento esperado para a espécie, o que a tornou apta para a reintrodução na natureza, constatada em avaliação clínica, laboratorial e comportamental.
As focas-caranguejeiras ocorrem principalmente na região subantártica e antártica. No Brasil, há registros ocasionais dessa espécie na região Sul e Sudeste, sendo que é a terceira ocorrência da espécie na região do litoral Norte de São Paulo nos últimos 12 anos. O deslocamento do animal até nosso litoral pode ter sido causado pela predominância de correntes marinhas vindas do Sul nesta época do ano – especialmente a das Malvinas.
Para seu retorno, a ideia foi monitorar, em parceria com o INPE, a Corrente do Brasil, que flui para o Sul, até a costa do Uruguai. “Como o Brasil tem alternância de correntes próximas à costa, consultamos o INPE para saber a posição da Corrente do Brasil com o objetivo de colocar o animal na borda dessa corrente, de modo que tenha maior chance de conseguir se deslocar até sua região de origem”, explica o oceanógrafo Hugo Gallo Neto, presidente do Instituto Argonauta e diretor executivo do Aquário de Ubatuba.
Assim, a soltura da foca-caranguejeira foi realizada em região próxima à que foi encontrada, mas em mar aberto, de modo que tenha condições para enfrentar o desafio de completar, sozinha, sua jornada de volta para casa.
Foi seguido um protocolo com normativas para animais antárticos e subantárticos, que garantem que o animal passou pelo processo de reabilitação e não carrega nenhuma doença que possa contaminar a população, explica a bióloga Carla Beatriz Barbosa, diretora executiva do Instituto Argonauta e Coordenadora do PMP-BS Trecho 10. “Mais do que ganhar peso, o animal tem que conseguir se alimentar sozinho, estar livre de doenças e com as reações esperadas para a espécie”, afirma.
Curiosidades sobre a foca caranguejeira
Apesar do nome popular, as focas-caranguejeiras não comem caranguejos, e sim pequenos crustáceos como o krill, pequenos peixes e lulas. Seu corpo é delgado com cabeça e focinhos largos, nadadeiras anteriores grandes e em forma de remo, e pelagem com coloração clara, podendo atingir até 2,60 m e pesar 250 kg.