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Ruclécio Lucena relata seus 40 minutos em Jaws

Há um bom tempo venho me preparando para tentar surfar Jaws, considerada uma das maiores ondas do mundo, a estratégia era ir para o Hawaii e monitorar um swell na ilha de Maui, aproximadamente 40 minutos de avião da ilha de Oahu onde estávamos.

07/Mar/2014 - Ruclécio Lucena - Maui Costa Norte - Hawaii - Estados Unidos

Ao comprovarmos a entrada deste swell no SURFGURU, tivemos a felicidade de conhecer e ter como companhia o Thiago Santana, que já tinha comprado sua passagem com a intenção de ver este espetáculo da natureza sendo desfiado por poucos surfistas do mundo

Enquanto esperávamos na sala de embarque, tivemos a felicidade de conhecer o bigrider Garrett McNamara, considerado um dos três maiores surfistas de ondas grandes do mundo e sua gentil esposa, com uma simplicidade que lhe é peculiar nos afirmou “Jaws vai estar muito grande”. Ele perguntou se eu tinha flutuante, respondi que não, e em seguida escutei “hoo my God” e completou falando a onda é muito pesada, eu tenho dois e empresto um flutuante, pode vir para meu barco descansar e tomar água, mas quando cheguei em Jaws senti o primeiro impacto, que era uma das entradas mais difíceis que já vi, ao passar por esta provação fui direto para a onda com sede de surfá-la. 

Comecei aos poucos me colocando e remando em três ondas, e pensei em me colocar mais para dentro com intenção de pegar uma onda mediana, me senti seguro que podia surfar pois estava focado, neste momento eu estava entre o grupo que fica no fim da onda e o grupo que fica no começo da onda, continuei a tentar me colocar para pegar uma boa, após 40 minutos vi todos remarem desesperadamente para dentro, neste momento errei minha avaliação, pois pensei que só vinha uma onda e remei com intenção de pegá-la, por isto remei para esquerda e não para a direita como todos estavam fazendo, ao ver a onda remei para pegá-la e logo em seguida percebi que todos continuavam remando para passar esta onda, percebi que vinha outra maior atrás, ao passar a primeira vi a segunda e logo pensei que daria para passar lançando a prancha para passar do lip quando estivesse lá em cima. 

Em questão de segundos vi que não daria certo, fui arrastado por uns 100 metros por baixo d’água em uma turbulência indescritível, neste momento temia por minha esposa ver a imagem de minha prancha sendo esmagada pela massa d’água e se desesperar por minha causa. Tentei emergir o mais rápido possível para que ela me visse bem, tive que escalar pela cordinha que estava agarrada à metade da prancha que se partira, ao subir sorri, pois vi que todo meu treino me deixou sobressair de uma situação extrema com a tranquilidade que o momento exigia. 

Em seguida fui resgatado por um dos três jets que vieram me socorrer, ao passar pelos barcos dos fotógrafos senti a atenção e respeito nos gestos dos tripulantes de cada barco, pois balançavam suas cabeças em um gesto de sim, o Garrett McNamara me convidou para seu barco e sorrimos do evento, depois me perguntou se eu queria sair, respondi que sim, ele pegou um Jet de alguém e me levou até as pedras fazendo uma manobra arriscada para me deixar em conforto na saída, agora só me restava assistir ao fenômeno entre tubos inacreditáveis, drops insanos e muitas vacas, o que vi também foi mais 15 pranchas partidas, um Jet ser pego pela onda e um barco virar ao receber a espuma do fim de uma onda. 

Três dias depois, de manhã cedo estava na calçada de Sunset e o Garrett veio até mim e me chamou para surfar. Ele disse pegue sua prancha, eu te espero para cairmos juntos, foi o que fiz agradecendo pelo que fez por mim em Jaws, o mar estava bem forte com muita corrente e não tinha ninguém na água, chamei o Heitor e Alan amigos do Recife, o Garrett saiu após pegar seis belas ondas, ficamos só os três em um Sunset storm, no final me senti uma cara de muita sorte.