Surfe Brasileiro: Uma Faca de Dois Gumes
Cotado para se transformar em esporte olímpico nas Olimpíadas de 2020, e com presença garantida nos jogos Pan-americanos de 2019, o surfe vem crescendo assustadoramente e ganhando, cada vez mais, adeptos nas praias do mundo todo.
10/Jun/2016 - Hugo Figueirêdo - Ipojuca - Pernambuco - BrasilAtletas brasileiros, como é o caso de Gabriel Medina, Adriano de Souza (Mineirinho), Filipe Toledo, Miguel Pupo e Ítalo Ferreira consquistaram espaço e são destaques na Divisão de Elite Mundial do esporte (WCT) e são tratados com verdadeiras estrelas.
Mas, paradoxalmente, o bom momento que os surfistas brasileiros vivem lá fora não reflete a real situação dos atletas que vivem no Brasil e sonham um dia figurar entre os melhores do tour mundial. Na maioria dos estados, a falta de incentivo ao surfe nas categorias amadoras e, principalmente, entre os profissionais, que vai desde a escassez de campeonatos até a ausência de patrocinadores, é cada vez maior. Por consequéncia, o afastamento de surfistas talentosos e com futuros promissores dentro d’água é quase certo.
É o caso do surfista pernambucano Ivan Silva. Nascido e criado na Praia de Maracaípe, município de Ipojuca, maior celeiro de atletas da modalidade no estado, Ivan é o atual campeão profissional de surf 2015 e, no último dia 07 de junho, foi escolhido pela Secretaria Especial de Juventude e Esportes da Prefeitura de Ipojuca como "atleta revelação" dos anos de 2014 e 2015 no esporte. Um cenário perfeito para Silva, com apenas 20 anos de idade, começar a viver do que mais gosta de fazer: surfar.
Mas, a realidade é outra, completamente diferente. Quando tudo conspirava a seu favor, achando que a carreira iria deslanchar a partir de agora, eis que vem um balde água fria. Seu principal patrocinador, alegando estar sofrendo com a crise financeira que percorre o país, resolveu rescindir o contrato com o atleta, e um “casamento” que acreditava-se ser para sempre, durou apenas seis meses. “Ainda estou em choque. No momento em que mais preciso de apoio, as portas estão começando a se fechar para mim”, disse Ivan.
O atleta falou que só não “chutou o balde” porque ainda pode contar com grandes apoiadores, como é o caso de Júlio Marques, da JM Surf Boards, shaper que faz suas pranchas, da Prefeitura de Ipojuca, através de um programa de bolsa atleta, do Bar do Marcão, da Aquarela Imagem, da loja Giroshop e da Academia Fisiostetic, ambas de Porto de Galinhas. “Nada vai me derrubar, sou forte, sou guerreiro, vou correr atrás. Meu maior sonho é poder viver do surfe”, acrescenta.
BOA NOTÍCIA - E Ivan Silva mostra que é forte mesmo. Enquanto não encontra um patrocinador de peso para voltar a viajar e “correr” campeonatos pelo mundo a fora, o atleta resolveu dar uma pequena pausa nos treinos para realizar seu primeiro sonho: construir sua casa própria. Depois de ter ganho de um amigo um pequeno terreno em Maracaípe, e com as poucas economias que conseguiu juntar nesses últimos meses, e tendo que colocar, literalmente, a mão na massa, Ivan está, como um passarinho João-de-barro, erguendo o seu “cantinho” com a força do seu suor.
Há mais de vinte dias que Ivan trocou a prancha, seu instrumento oficial de trabalho, pela pá e enxada. Está trabalhando como ajudante de pedreiro para minimizar os custos com a sua construção. “O serviço é puxado. Às 7h já estou de pé e pronto para começar o dia. Perdi a conta de quantos “traços” de cimento já tive que fazer”, disse.
“Mas é gratificante saber que aquilo ali vai ser meu e ninguém poderá tomar”, acrescenta orgulhoso.
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